sexta-feira, 3 de outubro de 2014

É UMA QUESTÃO DE SORTE







  Eu sei, foi mais do que estávamos acostumados a ter nos nossos melhores momentos, foi um fim meio trágico, porque todas as comédias quase sempre perdem a graça, quando a gente assiste sem estar no espírito certo. É uma questão de sorte. Andar a pé nos trilhos, e não ser pego pelo trem.
         Logo você, que sempre gostou de brindar aos recomeços. Agora entendeu finalmente, que eles sempre começam pelo fim.
Mas não chore, não se torne emocionalmente contraditória. No fundo, tudo não passa de uma simples escolha. E eu não me sinto responsável pelas suas expectativas, assim como não culpo você pelas minhas.

         Eu sei, isso dói na alma. Você se esconde na sua cama, no seu quarto blindado contra estranhos indesejados, é o seu lugar à prova de decepções. Mas acontece que o sono não chega, e a noite é excitante demais para ser jogada fora. Você coloca o seu fone tentando sintonizar a música que adora, procura na estante um livro bacana, enquanto ouve a sua banda favorita te lembrar: “Que um dia você terá uma bela vida, que um dia será uma estrela no céu de alguém.”

         São sempre mil coisas ao mesmo tempo. Mil formas de distração que de longe parecem bem mais atraentes. Mas qual será a sua desculpa para embarcar de olhos fechados? Qual será a cidade mais próspera para planejar a sua próxima viagem?
         Você procura o roteiro das suas férias perfeitas, e o difícil é combinar com quem queria estar perto. São companhias aéreas, não companhias perfeitas. O destino é uma forma de nos fazer olhar pra frente. Você descobre o prazer de viver sem entender o que está vivendo. E então, quando menos espera, tudo acontece.

         Qualquer coisa agora pra te fazer sentir melhor, qualquer estranho que comente suas fotos, e que te chame de "linda", fingindo não querer nada em troca.
Qualquer babaca que se preze, falando besteiras ao seu ouvido. Você odeia quando isso acontece: Nenhum sinal de interesse de quem pensou estar a fim. E aquele chato insistente, que finge estar contente em ser o seu melhor amigo. No fundo, o idiota mais próximo é sempre o menos óbvio, mas você está cansada demais pra ser legal. E você só quer que ele entenda esse seu lado, que você não precisa de mais ninguém. Você só precisa saber que existe alguém lá fora. Que espera por você, mesmo sem conhecê-la, enquanto olha as estrelas, como se fossem um relógio. A lamentar pelo tempo que ainda falta para esse encontro.

         Você só precisa lembrar que dançar te faz livre. Que em qualquer circunstância, pode contar com suas amigas. Que elas estão lá, e são sua força e seu consolo. Quando deseja se entregar, e não encontra mais razões. Você só precisa lembrar que já passou por muita coisa. E que isso não é nada que você não dê conta.

         E você adoraria entender aquilo que sente, adoraria saber como é, ser o centro da gravidade, em torno do qual, gira o mundo de alguém. E isso bastaria, por uma noite ou por uma eternidade de cafés da manhã servidos na cama.
         Mas você acorda tarde, e suas prioridades são outras. Ser independente te consome. Não ter pra quem voltar te liberta e te faz forte. E esse é o seu mundo, garota, são as suas condições impostas. Não abra mão dos seus critérios por nenhum idiota.

         Você não deveria fugir disso de forma alguma. Mesmo que você tenha os seus motivos, e eles sejam tão importantes, chegando a se refletirem na sua personalidade, no seu comportamento e na sua maneira de ver a vida.
         Eu tenho certeza que eles não tem a ver só com o seu presente, mas com o seu passado. E nada nem ninguém que venha do passado poderia ter tanta relevância, a ponto de transformar a pessoa única e autêntica que você é, em uma caricatura triste e amarga das decepções que você sofreu.
         Portanto, não dê esse poder pra quem não merece. O passado deve ser um trampolim, e não uma âncora.





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