segunda-feira, 23 de março de 2015

CASAIS PRONTOS




     Há casais que já nascem prontos. Sim, é louco de se pensar, eu sei. Mas quem pode se basear em coisas óbvias pra justificar o que foge a sua compreensão? Eles existem. É fato. Já nascem com as certezas que levariam anos para descobrirem em outros relacionamentos, se reconhecem profundamente um no outro, mesmo sem entender como aquilo funciona, mas de repente quando estão juntos, tudo faz muito sentido, e isso basta. Tudo bate. Tudo cola. Tudo flui. Com a naturalidade das coisas que foram feitas para durarem e atravessarem o rito das estações.

    Você pode achar que eles não precisam de tempo ou do período natural de auto-conhecimento e adaptação, mas precisam. Até mais que os casais incertos, digamos assim. Porque há uma incredulidade natural no ser humano. Quando tudo parece bom demais, há de se contestar. Para tornar mais real, mais aceitável. É um circulo vicioso na verdade. E todo mundo acaba caindo nele de alguma forma. Se você fosse um cão ou um bebê de colo você aceitaria a felicidade sem vacilos, sem maiores indagações ou inseguranças. Mas acontece que você não é. Então, você questiona. E quanto mais certo e perfeito parece, mais você se concentra nas dúvidas. Se apega a elas muitas vezes para não correr o risco de se deparar com a verdade, a verdade que se esconde e se revela constantemente nos seus próprios sentimentos. Aqueles que você ignora pra não se sentir vulnerável.

    Tudo é uma questão de aceitar aquilo que instintivamente já sabe. Que fica mais evidente em determinados momentos. Que contribui para o seu bem estar e a sua paz interior ao longo dos dias. Você sabe onde mora a sua fonte de equilíbrio e onde repousam as suas certezas interiores. 
     Há pessoas que já nascem cúmplices. Nos segredos, nas surpresas e na forma de pensar. Elas são parecidas em quase tudo, mesmo sendo diferentes em muita coisa. Parece contraditório de se imaginar, mas não é. Na real, é simples, e fácil, na prática. Essa é a beleza das circunstâncias. Elas não dependem da lógica para dar certo. Não precisam inventar complicações para encontrarem afirmação, tampouco são suscetíveis a aprovação do mundo para irem em frente. Eles têm personalidade. E isso faz toda a diferença. 
     Se alguém quiser se opor a eles, vai acabar os unindo ainda mais. Embora eles não despertem muito esse tipo de recalque. Porque eles são do bem. São na deles. Sua felicidade até faz barulho, mas não é invasiva. Se acomoda no seu próprio espaço. Grita, geme e sussurra mas não acorda os vizinhos. Não há necessidade de se expor, nem ficar se prendendo ao passado, ou desesperadamente tentando prever o futuro. 

     Casais assim vivem do presente. E seguem à risca o significado dessa palavra. Abusam das sensações agradáveis, do prazer e das surpresas. Se tratam com todo o carinho e o respeito que merecem e sabem que precisam. E mergulham fundo, e sem culpas, no mar intenso dos seus desejos. O elo que os une é bem mais forte do que um mero acaso, ou um instante de carência ou fraqueza súbita. O destino é o seu plano de fundo, não apenas uma desculpa tola para explicar de onde vieram. Tampouco traduz o rumo que as suas vontades os levaram a tomar. Porque bem lá no fundo, eles sabem que começaram bem antes de sequer entenderem o que estava acontecendo. 
     E eles tem as rédeas da sua própria vida e caminham juntos por uma escolha pessoal, e não pela ausência de outros caminhos. 

     Basicamente, eles se encontram em algum momento imprevisível, e começam um papo desinteressado, mas algo em si já os faz se identificarem de cara. E logo eles se reconhecem. E aportam um no outro como dois barcos que viajaram de muito longe para chegarem ao seu cais. Lá onde eles se sentem em casa. Onde eles percebem a natureza que os envolve. A confiança que vai sendo construída com dedicação e entrega. A intimidade que vem dos instantes mais inusitados, e que é compartilhada entre risos e até entre lágrimas. E a intuição que vai preenchendo, naturalmente, o vazio das velhas dúvidas de estimação, na certeza comum que vai tomando conta deles, de que se realizam na presença um do outro, da forma mais espontânea possível. 
    Na sintonia afinada dos olhares, gestos e palavras. Na consciência das situações vividas e que ganham entre si, um maior significado. Não por representarem algo fora do seu grau de expectativas, nem por serem extraordinariamente notáveis na sua concepção de mundo, mas por acontecerem enquanto eles estão juntos, e só isso já bastar para tornar tudo único e especial.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

MUDEI DE IDEIA. NÃO QUERO MAIS...





      Não reclama agora não. Eu fiz tudo para que as coisas não chegassem nesse ponto. A gente tinha uma eternidade pela frente, mas você perdeu segundos preciosos tentando decidir o que faria. Eu tenho pressa. Essas questões pseudo-afetivas não me seguram mais se não sentir que têm futuro e possibilidade de voltar a te ver de novo, ao menos nos dias subsequentes. Eu chego lá rápido- quando você me toca e me estimula nos lugares certos. Aposto que agora você já iniciou um tour pela sua imaginação fértil, passeando pelas áreas mais supervalorizadas do meu corpo e associando a uma intimidade que adoraria que eu te desse. Você não seria capaz de sacar quando eu me refiro ao coração. Nem que eu te desse uma bússola, um mapa e todos os sinais possíveis de que estou realmente na sua. 
     Sua falta de iniciativa me irrita. Seu lado acomodado me deixa puta. Preciso dizer: Essa sua atitude paciente e confiante diante do mundo- e de tudo que ele te oferece- não me fará ficar aos seus pés. 
       Não é bem assim. Comigo você vai ter que aprender a dançar conforme a música. E eu tenho um gosto eclético demais para as suas preferências de sempre. Vai ter que entrar no meu ritmo. Tem certeza que está pronto para isso? Vou te fazer correr maratonas. Você vai suar tentando aceitar porque sou tão complicada para o seu gosto simplório. E eu vou implicar com você de muitas maneiras diferentes, ainda mais quando não tiver motivos para duvidar do que você me diz. É o meu jeito de gostar e me acostumar com os meus próprios sentimentos.

     Mas ainda não sei ao certo se sabe onde está se metendo. Não sei se o seu olhar é direcionado especialmente para mim ou para a primeira que te interessar e que corresponder a ele. Não sei se você tem a noção exata do tempo que está perdendo. Que poderia estar aqui falando comigo. Mudando o meu conceito nada positivo a seu respeito. Me fazendo rever meus critérios sobre: até onde é possível confiar no acaso e sobre a superficialidade de tudo que acontece na noite. Mas você demora. Insiste demais em parecer despreocupado. Me convence do seu desinteresse fingindo não saber qual o melhor momento para chegar. 
      Eu procuro seus olhos e só encontro a confusão de alguém que pensa e não faz. E isso me afronta. Me faz perder o tesão. Por favor, deixe a timidez de lado, e faça alguma coisa. Vire a sorte pelo avesso, invente uma palavra nova ou uma boa desculpa, mas atravesse logo esse desfiladeiro que nos separa das nossas certezas e venha até aqui falar comigo. Um passo por vez e você consegue. Prometo não ser tão má e te dar algum crédito. Agora venha. Eu te espero. Te acolho. Te recebo. Só não fique aí parado me olhando através da distância. Como se fosse capaz de transpor o silêncio apenas com sorrisos e olhares. Vai precisar se esforçar um pouquinho para me conquistar. Nada que você não dê conta. Nada que eu possa ignorar.
     As possibilidades estão no ar e o show está quase acabando. O que restar depois será sobra e a barganha final não será suficiente pra me satisfazer. Tenho uma cama quente e confortável me esperando. Não me entenda mal- mas pelo que vi até agora- não acho que você seja capaz de competir com ela. Ou você começa agora, ou vai perder sua chance. Você espera demais e eu já sou ansiosa por natureza. Já estou pagando a conta e você ainda olha o cardápio como quem não sabe o que vai escolher. 

      Sinto muito, já estou indo embora, é tarde demais para a gente. Não chegue agora- só vai queimar o seu filme. Também não vou ficar com você lá fora. Não precisa me acompanhar com a pretensão de ser gentil. Tente a sorte numa próxima vez. Antes, eu queria demais que você me surpreendesse, e que fosse diferente de tudo que tenho cansado de ver por aí. Não vou ser tão radical a ponto de afirmar que estava errada ou que me enganei. A sua falta de atitude apenas adiou a nossa prova final para uma data que não sabemos ao certo quando vai ser.
      Você tem razão. Meus olhos não mentem. Eu queria, e queria muito. Fiquei torcendo em segredo para acontecer. Mas você não sabia se era eu a sua melhor investida naquele momento. Perdeu muito tempo escolhendo, e eu nunca te dei essa alternativa de poder vir quando quiser. Então, diante dos fatos- e deixando a decepção de lado- mudei de ideia. Queria muito mesmo. Agora, não quero mais.








sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ELA TEM O DIREITO DE FICAR SÓ...






       Sim, ela é uma garota. É romântica, sensível, acredita no amor e no destino... E ela tem o direito de ficar só.
       Você vai vê-la na pista, dançando, com naturalidade e desenvoltura, conversando animadamente com alguma amiga. Vai se sentir hipnotizado pelo seu carisma- e pelo charme insinuante e despretensioso que ela irradia. Você vai querer que ela seja sua. Vai desejar com todas as suas forças que ela te dê bola. É um desejo mais forte do que os seus instintos dão conta. Faz parte de uma vontade que você reconhece, mas não controla. E ela mexe com você em todos os níveis. É a garota certa na qual você baseou todo o conceito sobre o que faz a sua cabeça e qual é, na verdade, o seu tipo. Mas isso ainda não é um convite para que você se aproxime. 
       Se ela sorrir, não estará fazendo isso para te provocar. Se ela te olhar, você ainda precisa ser capaz de desvendar o que ela está querendo. É uma questão de entender que talvez não seja o mesmo que você. E talvez você não saiba o que fazer diante disso. E talvez você precise apenas aceitar e seguir em frente, porque, por melhor que você seja, você nunca será perfeito para ninguém. E por mais que você a queira, isso não é o suficiente para despertar o interesse dela. É preciso que você entenda isso: O que você sente só é intenso na sua maneira de sentir. E o que ela sente não depende do quanto você a quer. Respeite essa mulher, ela tem todo o direito de não gostar de você.
       Ela não precisa saber quem você é, insistir não vai fazê-la mudar de ideia. Se ela não está a fim, essa é a sua deixa para se afastar e ir embora. Saía do seu caminho, deixe que ela decida sozinha o que é melhor para ela.

       Ela não precisa de você para se sentir importante. Ela não precisa de ninguém que não acrescente nada na sua vida. Não espere justificativa para alguma falta de iniciativa, nem procure explicação quando ela se tornar contraditória. Ela é feita de emoções, e mudanças. Como a lua muda a direção das marés, ela não tem nenhuma obrigação de saber o que quer. Ela não tem que escolher você, em meio a tantos pretendentes. Ela não tem que escolher ninguém, se dançar for o seu melhor pretexto. Ela pode estar só e ser a pessoa mais feliz do mundo. E a sua companhia continuará sendo agradável, e você continuará desejando que ela fosse sua. Porque, quanto mais livre ela se torna, mais verdadeira ela se sente. E quanto mais forte for o seu amor próprio, mais profunda e sincera será a sua entrega.

      Sim, ela é simpatica e educada e encantadora. Isso não significa que você deva ir lá e ter a pretensão de querer dar um sentido à vida dela. No fim das contas, você sabe que quem dará algum sentido- ou significado- na vida de alguém, será ela. Só elas são capazes disso. Você, por agora, enquanto homem, baixa a bola, e admira, e torce para que ela repare em você- e se ela o fizer- você vai com calma: não abuse da liberdade que ela te der. Mais uma vez, repita comigo: Ela não tem obrigação nenhuma de gostar de você. Tampouco te dar atenção ou contribuir com a conversa. Eu sei, isso pode ser chato e incrivelmente decepcionante às vezes, mas se acontecer, você também é livre para pegar o seu rumo e não perder o seu tempo. Esse é o lado bom da vida, você não tem que alimentar e nem se cercar de quem não faz por merecer a sua companhia. Toda a falta é baseada numa presença que faça alguma diferença. E se não faz, você simplesmente não tem nada o que perder. Você pode apenas dar o fora, e não ficar investindo em coisas que não valem o seu esforço. Então, não seja inconveniente, nem pedante ou desagradável. Seja homem, aprenda a levar um fora e saber a hora certa de ir embora. 
     Mas não espere que ela mude ou venha a se adaptar aos seus gostos. Não faça essa chantagem emocional tentando convencê-la a entrar no seu jogo. Ela não é- e nem nunca será- uma forma sem conteúdo. Esqueça os seus ideais imaginários, ela não é à prova de falhas. Talvez não seja exatamente uma reprodução minimalista dos seus sonhos. Não quer dizer que ela não seja perfeita do seu jeito. Vai de você perceber e ser capaz de reconhecer as suas verdadeiras qualidades. 

        E ela não precisa ser coerente com o que está sentindo. Não precisa saber e nem justificar se gosta de você ou não. Isso é uma escolha dela, não sua. Mais uma vez, você não interfere e nem tenta manipular as suas decisões. Uma garota não precisa ser persuadida sobre as suas escolhas. Ela só precisa encontrar certezas quando estiver à procura. São os seus critérios, e a sua forma peculiar de lidar com o mundo. É a vida dela, e é ela quem cuida. Se quiser fazer parte, são as suas regras: Ou você respeita- e as aceita- ou coloca o seu barco na água e vai navegar em outros mares. Simples assim.
        E mesmo que tudo nela pareça complicado, basta um sorriso pra você sentir que tudo melhora quando ela está por perto, e que, por mais que ela não saiba ao certo qual o melhor roteiro, ela sempre será capaz de tornar a sua viagem inesquecível.
       Feche os olhos e cruze os dedos. E quando ela olhar para você de novo, torça para que o seu interesse seja genuíno, para que a sorte te pegue sorrindo e que a cumplicidade apresente vocês da forma mais natural possível. Como um verdadeiro convite para que você se aproxime e deixe que ela faça a real diferença na sua vida.




sábado, 31 de janeiro de 2015

CARTÃO DE VISITAS





     Ciúme é insegurança. Indiferença é insegurança. Orgulho é insegurança. Toda e qualquer forma de controle vem de alguma insegurança. E insegurança é medo. Medo disfarçado de ignorância diante de algum motivo que precisa, e deve, ser encarado de frente, com coragem, e por fim, superado. 

  Exige força, perseverança e determinação. Mas quando você supera você se liberta: das inseguranças, do ciúme, do orgulho, de todas as forma de controle- e isso é o que se chama maturidade. E maturidade te faz ser bem-resolvida com tudo aquilo que você é de verdade. Não restam espaços pra coisinhas insignificantes e nem tempo para nutrir sentimentos limitadores e contraprodutivos. 

     A maturidade é emocional, e conhecer suas emoções te permite escolher quais as que deve dedicar maior atenção. Então, você se dedica, e confia no GPS dos seus próprios instintos. Você não negocia confiança em troca de amor próprio, nem procura culpados para justificar suas decepções. Você se torna responsável pela sua felicidade, e mais do que isso, adquire aquela simplicidade que só as pessoas de alma leve e com um apreço natural pela alegria são capazes de ter. 

    De repente, a beleza deixa de ser o seu principal atributo e diante de tantas qualidades e virtudes, ninguém sabe dizer ao certo porque é tão bom estar perto de você. 
    Alguma coisa na sua aura muda. Como um momento perfeito onde a simpatia disfarça qualquer breve imperfeição, sorrir passa a ser o seu cartão de visitas. E quando você o exibe por aí, todos desejam te convidar para entrar, e fazem questão que você fique, pelo tempo que achar necessário. E pelo tanto que julgar ser capaz de ser feliz, e permanecer nesse estado de espírito, a sós com seus sonhos e pensamentos, ou ao lado de alguém, que você sente que vale à pena, e que provavelmente sempre esperou por você, mesmo antes de te conhecer, e quando nem sabia ao certo se você era real ou se algum dia encontraria o caminho para chegar a sua vida.








sábado, 24 de janeiro de 2015

NA VIDA E NAS REDES SOCIAIS





      Adicionar e aceitar pessoas que eu não conheço nas minhas redes sociais é uma escolha minha. Não que eu precise explicar, mas estou em um dia bom, e não me importo em o fazer.
      Você, assim como eu, deve conhecer algumas pessoas interessantes na sua vida. E, assim como eu, você não nasceu conhecendo essas pessoas, certo? ( a não ser que você carregue alguma carga psíquica de alguma vida passada ou seja gêmeo, mas isso não é exatamente uma coisa tão comum). Então, um dia- vamos presumir que você estava num bom dia, receptiva e de bem com a vida, não é tão raro de acontecer- então, você permitiu que elas se aproximassem, veio a conhecê-las e elas se tornaram importantes e significativas para você- ou não. E se for o caso, isso não mudou em nada a sua vida, porque errar ou se enganar com alguém não é grande coisa. É algo trivial e insignificante num lugar de possibilidades tão amplas quanto a sua vida.

     Na real, tanto faz. Você não é especial porque um dia sofreu, ou ainda sofre, nem porque é impulsiva ou pensa muito antes de fazer as coisas. Você é especial porque se ergue, levanta a cabeça e continua em frente, não se deixando abalar, nem influenciar, por nada que faça parte do seu passado. Isso é o que dá a você um brilho próprio e indecifrável. O resto é fantasia e maquiagem.

      O que importa é que tudo na vida se resume a tentar e se permitir. Se você não tenta, já perdeu. Se não se permite, já desperdiçou alguma chance. E é verdade também que virão outras, e outras, porque a vida nunca deixa de insistir com você, embora você seja chato(a) e muitas vezes desista dela antes do tempo. Mas a questão é, se você continuar achando que o mundo te deve um conto de fadas, vai morrer olhando pra porta, enquanto outras se divertem por aí com os seus sapos, transformados em príncipes, apenas pela ousadia de um beijo. Mas, como tudo na vida, a escolha e a responsabilidade são SEMPRE suas, e de mais ninguém.

     Quanto a mim, sigo adicionando em minha vida- e redes sociais- quem eu quero e quem eu acho que devo. Não é uma questão de critérios- como o seu orgulho tentando convencer a sua insegurança, com uma falsa sensação de poder- sempre gosta de repetir. É mais partir da premissa de que, a princípio, enquanto você não conhece uma pessoa, ninguém é mais e nem melhor do que ninguém. Desculpe se você achar isso ruim, ou tiver uma má impressão minha, mas essa forma dissimulada de controle não está muito na moda nos dias atuais, e não combina com aquela liberdade de ser e de sentir que você tanto prega por aí, e reclama exaustivamente quando não encontra. Aceite os outros como eles são, se quiser que eles também te aceitem como você é. Isso não é um discurso nem uma frase de impacto, é apenas um conselho humilde do amor para quem deseja embarcar nessa viagem e ainda não sabe qual o melhor roteiro.




domingo, 18 de janeiro de 2015

ADIVINHANDO INTENÇÕES





         Então, você se pergunta o que haveria de novo pra te fazer voltar a acreditar como antes. Me interroga com seus olhos de curiosidade infantil: Estranho, estranho meu, o que me faria tornar a te ver novamente? Você usaria o velho pretexto de esquecer alguma coisa para voltar a bater na minha porta como quem não quer nada? Como quem estava apenas passando e resolveu dar uma esticada, e escalou os meus cinco andares de prédio sem direito a elevador. Depois, você toca a campainha, enquanto recupera o seu fôlego, e aguarda ansiosamente que eu abra a porta com o sorriso mais convidativo do mundo, e te peça para entrar e não reparar na bagunça.

       Nós brincamos de adivinhar as intenções um do outro, enquanto dialogamos sobre alguma cadeira insuportável da Faculdade, ou algum show imperdível que acontecerá na cidade no próximo final de semana. Fico esperando que você me convide como quem tocou no assunto com um propósito implícito- fingindo não ter nada em mente, insinuando querer tudo. Mas você é sutil, isso faz parte do seu charme. Eu sou ansiosa- e atrapalhada, isso faz parte do meu carma. Você desconversa e muda o rumo da prosa, com uma naturalidade que me dá nos nervos. É como se você passeasse pelos arredores dos assuntos que mais me importam, e iniciasse as frases que eu gostaria que você terminasse, mas você nunca termina. E me deixa aqui, nessa expectativa, sobre o que sente a respeito de mim, a respeito da gente- nós, enquanto um casal, assim mesmo, no plural, como referência a um pronome, que indica a soma de duas individualidades na tentativa de significarem alguma coisa juntas. Quem sou eu pra você afinal? Uma amiga distante, uma mera ficante, uma garota legal mas instável demais pra ser levada a sério? Quem sabe eu não seja a sua primeira opção, e isso não seria o tipo de coisa que me faria insistir com você, mas ao menos poderia justificar o meu afastamento súbito, as minhas saídas- que estupidamente tenho evitado- em finais de semana, com o objetivo claro de me distrair, e beber, e dançar, até não lembrar mais nem de perto que você existe.

          Então quem sabe você me ligaria perguntando como vai a vida- como tantas outras vezes já fez- ou porque eu ando sumida como se tivesse um real interesse em saber da minha vida. "Você é um idiota, sabia? Vá para o inferno!" Não fosse pela minha fina educação, a que tanto aprecio, e que nunca abro mão- você ouviria isso de mim agora. Porque é o que você merece por fazer esse discurso ensaiado do cara preocupado que vez por outra lembra que eu existo. É conveniente para você ser assim, eu entendo. É típico do gênero. Mas para mim, é ridículo, e inútil. Isso não me serve. Você, como amigo, é o cara com quem eu gostaria de estar confidenciando nessa hora, as minhas fantasias, falando ao seu ouvido em tom provocativo, e te deixando excitado, e cheio de intenções na cabeça. Você, como homem, me faz ter pensamentos obscenos, me faz pensar em romance à luz de sexo, e momentos profundos de intimidade, temperados pelos nossos sorrisos insinuantes e palavras com duplo sentido.
          Mas você só fala sobre como as suas noites são vazias, e como você nunca encontra alguém que te complete- sem saber o quanto isso é brochante para uma garota como eu, no estado em que eu me encontro, de ilusões persuadidas por um desejo que não me dá trégua, e que me deixa obcecada  por aquilo que eu quero, sem entender porque os outros agora, por mais promissores que pareçam, apenas não me interessam. Porque no fundo, tudo que eu quero nesse momento está bem aqui na minha frente, e por mais que você seja tapado ou egoísta demais para perceber, tudo que eu quero- e não sei por quanto tempo- ainda é você.

          Mas não por muito tempo, se continuarmos assim, nesse impasse comunicativo. O meu desejo é eloquente. Ele grita, se declara, está nos gestos e expressões. Mas o seu interesse é silencioso, contemplativo. Não dá para dizer de onde ele vem, nem mesmo afirmar se efetivamente existe.
     Nós não estamos nos entendendo aqui, definitivamente. Parece que falamos uma língua estrangeira em uma terra sem lei. Difícil entender o que não se pode explicar nem para nós mesmos. Nós deveríamos tentar a linguagem dos sinais, quem sabe você captaria melhor o que meus olhares não estão sendo capazes de traduzir em palavras.
        Gostaria que você tivesse a incrível habilidade de ler minha mente. Seria mais prática do que saber trocar pneus. Mas sentiria vergonha de alguns dos meus pensamentos. Seriam impróprios para esse horário e fariam, talvez, você rever seus conceitos sobre a visão que tem de mim. O que, pensando bem, não seria assim tão ruim, considerando os fatos. Mas nossa situação já é embaraçosa que chegue. Ao menos, para mim. Acho que talvez fosse melhor mesmo que você fosse embora, e me deixasse a sós, com minhas esquisitas sensações sobre ser ou não ser importante para alguém no mundo, e aceitar ou ignorar as minhas vontades, em nome de uma emoção que não sei se atribuo aos anseios da alma ou às necessidades involuntárias do corpo.
       Não suporto essa angústia, ela me dá calafrios. Me faz ponderar entre todas as hipóteses, e contrariar a lógica sobre tudo que julguei ser possível, e todas as vezes em que me convenci a arriscar por alguém, o resto de fé que eu tinha na condição humana, e resolvi nesse momento, depositar em você. Só pra ver no que ia dar. Sem maiores pretensões. Não que eu esperasse muita coisa em troca, mas o que viesse nesse caso, era lucro. E para quem cansou de sair sem nada, era a chance de uma virada já nos descontos.

        Valeu o risco. Te conhecer valeu a noite, e mais alguns dias que ficaram pendentes na lembrança, à espera paciente de um novo encontro, inspirado pelo acaso, cercado de circunstâncias não premeditadas, doses homeopáticas de saudade e alguma breve inquietação.
           Se você vai se tocar? Não sei. Talvez um dia, talvez nunca. Talvez por uma noite, não importa. Mas não vou ficar aqui para descobrir. A espera cansa. Até para espíritos teimosos e compreensivos como o meu. Uma mulher não te culpará por tentar ter dela mais do que uma boa amizade, mas experimente desperdiçar a chance de ter algo mais quando ela está disposta a isso. Uma oportunidade desperdiçada é uma chance perdida para sempre, e no limbo das coisas que poderiam ter sido, será sempre aquela sorte cuja falta você irá lamentar quando se decepcionar com alguém.



     

sábado, 17 de janeiro de 2015

FIQUE COM AS SUAS RAZÕES





      Não vou dizer que você não tinha lá suas razões pra querer ir embora. Eu sei que colaborei com os argumentos mais convincentes, não sendo o tipo de cara que pede para que você fique. Ou insinua que não conseguiria viver minimamente bem sem você. Mas vá lá, era a sua vontade estampada na embalagem do orgulho, afirmando que era a melhor coisa a se fazer. Então eu fiz o que qualquer criatura compreensiva e altruísta nesse caso faria. Te disse: "Vá! E se cuide..." E ainda tive a gentileza de abrir a porta para que você saísse para fora da minha vida. 

     Agora não entendo porque esse ressentimento entrelaçado nas suas palavras apontadas para mim. Tá bom, estou sendo cínico, é claro que eu entendo. Mas o que você queria que eu fizesse? Chorasse, implorasse, ficasse dias a fio te ligando e chantageando a sua decisão hesitante com a minha pretensa saudade. Como se isso fosse capaz de convencer alguém de alguma coisa. Ainda mais quando a pessoa já conhece as peças, artimanhas e contratempos que a sua consciência lhe prega sempre que as suas escolhas são postas à prova. A sua teimosia nos ganhou. Venceu pelo cansaço. Abri mão da minha determinação pra te deixar à vontade com as suas próprias escolhas. Não haverão traumas no fim das contas. Ficaremos bem, sobreviveremos no fim. E ainda seremos capazes de voltar a gostar novamente, sem rancores reprimidos nem resquícios de um passado mal acabado. 

      Foi mais prático assim, você tinha lá suas dúvidas e resolveu dar ouvidos a elas. Se tornaram suas melhores amigas, e fizeram aquilo que melhores amigas muitas vezes fazem, te incentivaram a pular fora como se isso fosse realmente o melhor para você. E vai ver, era. Quem sou eu pra discutir com as suas razões, em quem você tanto confia. Se preservar é uma escolha considerada saudável quando se olham as coisas do ponto de vista da dor. É altamente aconselhável que você não guarde mágoas e nem arquitete vinganças com a intenção de parecer mais forte. Siga em frente sempre, e esqueça que um dia houve alguém relevante, com quem você compartilhou segredos, algum afeto sincero e uma boa quantidade de orgasmos e emoções- que já não parecem tão verdadeiros- olhando o histórico recente das suas mentiras e o quanto você é capaz de fingir e se forçar a acreditar no que te faz sentir melhor.

     Olha, eu não sou esse tipo de cara, desculpe, mas não é o meu estilo. Se você precisa ser lembrada dos motivos pelos quais estaria bem melhor aqui, comigo. Se, olhando para tudo que já passamos, para os altos e baixos da nossa breve e recorrente história... se isso não te faz sentir que está perdendo algo, de alguma forma... Que é uma coisa rara, difícil de acontecer, e, mais ainda de manter. Se isso não te provoca uma sensação incômoda de estar desperdiçando uma chance única, e que valeria o risco de fechar os olhos, mergulhar sem medo e ignorar todas as suas neuras e dúvidas. Bem, eu assino embaixo da sua partida involuntária para longe de mim. Espero que tenha sorte. Que descubra no íntimo da sua alma as verdadeiras razões que te fizeram ir em busca das respostas que eu não pude te dar. 

    Abro a porta para você e peço gentilmente que vá embora para que eu possa dar início ao meu ritual particular com a finalidade de te esquecer. Não afirmo que será fácil, porque acredito que ninguém deixa de ser especial apenas porque te decepciona. Isso é papo de pessoas imaturas tentando desesperadamente encontrar uma saída mais rápida. Quanto a nós, não será assim tão simples. Não será do dia para a noite. Haverão outras paixões contraditórias pelo caminho, e solidões transformadas em desculpa, para não sair, não conhecer gente nova, não se envolver muito além de um certo ponto que nós mesmos iremos nos impor na tentativa inútil de evitar frustrações.

    É assim mesmo. E cedo ou tarde, os sentimentos se ajeitam, as coisas passam a fazer sentido, e tudo volta para o seu devido lugar. 
    O que para alguns pode parecer "ser exigente demais", para outra pessoa pode ser o mínimo que ela espera de você. E na maioria das vezes, isso é o que faz toda a diferença entre quem fica e quem passa pela sua vida!






quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

SEXO É ATREVIMENTO





     Sexo é atrevimento. Mas não é jogo, é verdade. Você se envolve, entra no clima. Não há como ser diferente. Não existe sexo impessoal, só sexo sem comprometimento.
    Sexo é uma busca solidária por consolo e realização interior. É uma chance de alcançar a parte mais vulnerável do outro. É adentrar a intimidade e penetrar em lugares remotos, desabitados, revoltos e impossíveis de serem revelados nos primeiros encontros.
    Sexo é segredo. Dos mais bem guardados. É um mergulho profundo nas coisas não ditas, no sentido real que permeia o abstrato. Sexo é indiscrição e aventura.  É viagem de férias em uma rotina de tarefas obrigatórias. É solidão compartilhada entre as almas, cúmplices, e parceiras de afeto e programas agradáveis para se fazerem em dias de chuva.

     Sexo é encontro, embora também seja distância. É a memória dando sinais de que a presença ainda desperta alguma coisa. É o balanço das certezas, é o tremor das pernas. É o beijo roubado no momento distraído, é insinuação urgente de uma espera que incomoda.
      E sexo é momento, são promessas improváveis que se valem de uma ingenuidade conveniente. É mentira que cola porque o corpo exige. É verdade que liberta como uma força ou um gemido. Algo que não pode ser explicado, tem que ser vivido. O tempero do sexo sempre queima a língua.


     Sexo é liberdade, selada pelo compasso insaciável do desejo. É intenção não declarada, que com o tempo fica evidente. É sinal de intimidade, mesmo que seja vulgar ou promíscuo. Sexo é uma história romântica que pode, ou não, ser contada, mas que independe disso. Vale o ingresso, o show e a espera na fila. E só causa arrependimento quando não é feito com prazer.
    Sexo é mensagem subliminar. É o tesão nas entrelinhas, é a mudança de posturas e posições, é pensar com os sentidos, e sentir com os olhos. Sexo é o toque. Mais do que o contato, é o calor. É o auge da vontade quando o fogo já se espalhou. E a única forma de apagá-lo é deixar arder até queimar.

     E sexo arde, angustia e acalma. Como um embalo afinado que provoca o orgasmo num vaivém incessante, no apagar das luzes onde tudo é respiração, cheiro e carícias, o sexo invade, espaços difusos e vazios existenciais. Gera conflitos e traz soluções. É um tratado de paz assinado por dois países em guerra, a Consciência e o Desejo.
    E sexo é arte. Contemporânea e antiga. É a libido inspirando a descoberta, entre quatro paredes, repercutindo o prazer na expressão dos detalhes. Todo o sexo é minucioso. E fica mais gostoso à medida que se torna constante e com a mesma pessoa. É uma generosidade egoísta. Uma forma de entrega recíproca.

     Sexo é declaração improvisada ao pé do ouvido, é calor insuportável subindo pela nuca, é arrepio suave que corre pela espinha dorsal e penetra na pele em forma de energia. É partida e chegada. Consideração e irrelevância. É o querer ficar, mesmo tendo que ir embora. Permanecer mais um pouco, quando o abraço já não é tão longo, as unhas já deixaram marcas, e o prazer já arrefeceu.

    Sexo por si só, é bom. Como lazer ou esporte, é ótimo. Mas nunca dura muito tempo. Porque já nasce limitado pelo seu próprio conceito, de que não pode ser assim complicado, a ponto de existir saudade, e nem deve ser tão forte, que envolva emoções.
   Sexo com amor é a verdadeira intimidade. E a intimidade torna o prazer do sexo muito mais profundo, demorado e intenso.





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domingo, 11 de janeiro de 2015

INTERESSES SUPERFICIAIS





     Eu me compadeço das mulheres. É sério. Deve ser um saco saber que todo o cara que curte, aprecia ou elogia você de alguma forma, no fundo está sempre munido de segundas intenções. Ou pior, que está fazendo aquilo com uma pretensa ideia de que concordando com você, ou te dando aprovação para tudo que você pensa e faz, vai fazer você se interessar ou até nutrir sentimentos positivos a respeito dele. O que pode até ser verdade em alguns casos, vai que cola né... mas no fundo, você nunca sabe se é só um estímulo para o seu ego, ou só mais um cara que poderia ser até legal sendo ele mesmo, se procurasse te ver e tratar como um ser humano que merece e deveria ter alguma atenção e interesse genuínos (e não apenas, superficiais...), mas prefere agir como mais um idiota previsível, e acaba entrando na categoria dos babacas que só te fazem ter uma péssima impressão de toda a espécie. 

     E é nessa parte que a coisa se torna pessoal, porque é um saco e totalmente entediante ter que provar para alguém, que você recém conheceu, que não se enquadra nos estereótipos e nem faz parte dessa leva previsível de decepções que já cruzaram o seu caminho. Há caras que insistem, e persistem, e travam verdadeiras batalhas de convencimento da outra pessoa para que ela o aceite e o veja como ele realmente é. 
     Eu não acredito nisso, nem acho que seja possível mudar a opinião do outro quando ele não está disposto a fazer isso por si próprio. Na minha opinião, é um esforço árduo e inútil. E geralmente, mesmo que seja bem-sucedido, não dura muito tempo. A maioria das pessoas, e especialmente, as mulheres, nessas questões de relacionamentos e onde as emoções e os sentimentos estão envolvidos, gostam de chegar às suas próprias conclusões sozinhas. E tentar fazer com que elas mudem de ideia é andar em círculos. Quando você acha que as coisas estão evoluindo para um nível de entendimento mútuo e confiança, elas voltam para os mesmos medos de estimação e as mesmas velhas dúvidas carregadas de passado de sempre.

     Sinceramente, num mundo inconstante como o nosso- em que todo mundo quer sempre ter razão em tudo, e que vai do machismo ao feminismo em questão de segundos, e de acordo com a conveniência do momento- acho que um homem que quer provar que tem valor e que vale à pena, mais do que ficar desesperadamente querendo mostrar que tem atitude e que é melhor ou diferente da maioria, tem que aprender a ficar mais na sua. Deixar que elas decidam.
      É uma forma mais inteligente de confiar que as mulheres vão saber identificar o que é melhor para elas.






terça-feira, 6 de janeiro de 2015

DEVANEIOS DE OCASIÃO





Você me toca, isso não estava no script. Tento prender meu olhar na sua retina. Mas você desvia antes. Timidez, eu penso. Torço secretamente para que a essa altura dos nossos encontros marcados sem a permissão do destino, você ainda se veja lidando com isso. Te daria um certo charme despretensioso, admito. Como um ar cercado de mistério que reveste a sua aura e instiga a minha curiosidade. E eu odeio ser fisgada desse jeito. Mas se for mesmo timidez, até combina bem com a minha extroversão natural. Espero sinceramente que seja. A outra alternativa seria talvez um real desinteresse da sua parte. Não é nada promissor de se pensar.
Você já encarou em meus olhos as minhas inseguranças antes, e lidou com os meus devaneios de ocasião. Isso nunca te fez hesitar, não seria agora que está assim, posando de esfinge indecifrável. Parado à minha frente, tão próximo da minha boca e distante do meu desejo. Tão vulnerável quanto a impressão de que compartilhamos mais do que apenas uma amizade colorida.
Eu não quero ser sua parceira eventual de cama. Você sabe que eu não sirvo e nem tenho vocação para isso. Quer dizer, eu acho que você sabe. Pensei que havia ficado claro. Ou sei lá, subentendido. Agora, já não sei mais de nada. Você olha para o relógio chamativo em seu pulso, e diz que precisa resolver algumas coisas. E que precisa ir agora. Se aproxima para beijar o meu rosto, encosta o lábio na minha boca. Eu recuo- como um reflexo involuntário de quem não está certa do que está acontecendo. Você me pergunta se quero sair mais tarde. Adivinha minha resposta com um sorriso confiante. Tenho uma vontade súbita de te decepcionar.
É claro, que eu sofreria bem mais recusando o seu gentil convite, mas não quero facilitar as coisas demais para você. Já ouvi esse conselho mil vezes de todas as minhas amigas- embora elas nunca o pratiquem nas suas próprias vidas. Então digo que não, que já tenho outro compromisso.
Meu orgulho flutua como um iceberg do qual não consigo me desviar. Você esconde bem a sua contrariedade. Responde que é uma pena, e se dirige para a porta firme e decidido a caminhar para fora da minha vida. Me arrependo mas não aparento. Sou treinada para isso. Ser dissimulada é como um hobbie para mim. Exceto que agora não me dá muito prazer ter que agir assim. Se eu fosse mais “fácil” certamente aproveitaria mais a vida. Mas acontece que não sou. Essa não sou eu, e pronto. Espero que você não repare na minha bagunça interior.
Ainda tento remendar inutilmente com um: "Quem sabe outro dia..."- você responde com um evasivo: "Claro! Podemos combinar..."- e nós nos enganamos com um novo: “Até logo!”- Dessa vez, com um sonoro tom de adeus.  
  
            Queria tanto que você ficasse, queria mesmo. Alguma coisa em mim até insiste para que você se sinta mais à vontade, e não me faça parecer assim, tão complicada. Mas eu ainda não estou pronta para confiar agora. E me arriscar a me envolver comigo mesma, e com tudo que espero de alguém. Com tudo que acho que sei sobre ter alguém que me mereça, e como valorizar e me sentir completa com isso- sem deixar que o medo de perder atrapalhe, ou os meus motivos particulares sejam para mim, suficientes para justificar qualquer escolha que eu venha a fazer.
Espero mesmo que você entenda. Espero que não saia por aí me esquecendo. Mas acima de tudo, espero que quando eu superar minhas barreiras e complicações pós-parto ilusório- da esperança, da fé e do amor- você esteja lá me esperando, e segure firme a minha mão, me dizendo que vai ficar tudo bem. E que, a partir de agora, nada nem ninguém, vai ficar entre a gente.






DO QUE VOCÊ PRECISA

       



            Você precisa sentir que é única, saber qual é a sensação que rola quando duas almas se encontram, e reconhecem no olhar um do outro, que foram destinadas a ficarem juntas. 

            Você precisa de alguém que tenha dúvidas- porque ninguém é real se não as tiver, mas que te encha de certezas. Que não transpareça esse medo e, se o fizer, que seja apenas um receio de nunca mais te deixar ir embora. E que você olhe dentro dele, e no fundo dos seus olhos encontre, tudo o que sempre procurou. Todas as afirmações que sempre escaparam. Todas as emoções que sempre te deixaram em dúvida, e pouco à vontade. Todas as paisagens que você sempre desejou conhecer, e nunca teve a chance e a coragem, por nunca antes ter encontrado a companhia ideal. 

            Que ele te faça viajar mil vezes antes mesmo de sair do lugar. E que vocês cheguem longe, muito longe, garota, onde ninguém mais foi. Que percorram verdadeiros infinitos e territórios desconhecidos, como amantes e amigos. Como dois loucos, tão parecidos e estranhos, com a cumplicidade de entenderem a introdução da música que toca quando estão juntos, e sentirem suas almas em sintonia, seus corpos se completando, seus corações vibrando com a mesma paz, e no mesmo ritmo. 
             Vou te dizer, você precisa de um amor como esse, e isso é o mínimo que você deve esperar da vida. 

            Então, grite, se isso for preciso. Corra, se caminhar te fizer pensar que nunca vai chegar; Mas faça sua mente e seu coração estarem certos disso. Você foi feita para ser amada, dos pés à cabeça, do canto mais obscuro do seu ser até a aresta mais iluminada da sua alma. Você foi feita para coisas muito mais significativas do que teve até agora. 

            Você é o sonho bom de qualquer homem capaz de adormecer em paz. Você é um motivo para permanecer acordado quando as estrelas não forem capazes de iluminar o horizonte em uma praia noturna. 
          Essa é a sua história, e ela tem todos os elementos de um romance clássico e inesquecível. Não se distraia. Não perca o seu centro. Não vá de encontro a palavras contrárias e sentimentos controversos. Não se contente com menos, e não se feche em um porão solitário com medo do que possa acontecer. 
            Vou falar então de uma vez por todas, e isso vai ecoar por horas e confundir suas razões. Mas não importa, você precisa ouvir:

  - Garota, você merece e vai ser feliz! 


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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

PAIXÕES DESENCANADAS





              Como é mais pura a alegria na expressão alheia. Saboreamos com mais calma, respiramos mais fácil. Se espalha no ar como um perfume de natureza inebriante, e vai preenchendo os lugares por onde passa com a sua presença carismática. Seu sorriso atrai outros sorrisos, convida o entusiasmo a fazer parte do seu dia, enquanto  instiga a curiosidade diante de uma nova perspectiva. 
                No horizonte das nossas lembranças, restam sempre os momentos sinceros em que elas foram vividas. Feito uma folha carregada pelo vento, na direção de um destino que ela ainda desconhece, entender o que está acontecendo é como tentar prever o tempo e o clima propício para um passeio. 

                Boas intenções e força de vontade nunca foram suficientes para fazer relações intensas como a nossa durarem. Acho que nós esgotamos as nossas possibilidades muito rápido. Com a mesma velocidade com que nos desfazemos das roupas na iminência de uma entrega urgente. Diante de um desejo que não nos permite desperdiçar os sinais com palavras. 

                 Nos entendemos na pressa, na linguagem indecorosa dos corpos- que se verte pela volúpia e se arrefece pelo prazer- enquanto a comunicação mais profunda entre as nossas almas repousava num afeto que provavelmente não fazia parte do contexto. 
                 Nós eramos como dois extremos cortando um mesmo hemisfério através de uma linha imaginária. 
                Você ainda acordava assustada com o som dos raios enquanto eu já estudava o céu minutos antes das tempestades. Nós não tínhamos como transformar nossos conflitos emocionais em um equilíbrio permanente, algo que fosse capaz de nos trazer alguma paz e conforto em meio a promessas superficiais e solidões disfarçadas de orgulho.

               Eu sei, não é nada pessoal. O que é, é. E o que não é, já foi! E assim, como tantas e tantas vezes, nos perdemos pelo caminho, enquanto aquele lugar se enche de estranhos incompatíveis pelas suas diferenças- que só irão descobrir mais tarde, quando já estiverem envolvidos demais para entenderem o que há de errado entre eles. 
               Tudo se torna previsível, a começar pelas suas atitudes diante daquilo que não lhe agrada. Tudo fica mais evidente conforme o tempo passa e você mergulha nessa procura desesperada por alguém que nem sabe se existe. Mas quer acreditar, porque isso é tudo que lhe resta nesse mundo repleto de coisas pela metade, e pessoas inacabadas.

              E duvidando da sua individualidade, você se vê tentada a participar desse jogo coletivo. Eu me vejo tentado a te esquecer em braços delicados e gentis. Me apego ao sexo. Você se desilude com o amor. Finjo que não me importo. Você se priva das lembranças. Perdemos contato. Usamos o tempo e a distância a nosso favor. Não restam dúvidas nem vestígios de culpa na sombra das nossas ações.
          A vida passa. Amores vem e vão. Paixões que nos encantam. Sucumbimos. Desencanamos. Sabe-se lá com que forças, ou motivações egoístas, nos privamos de algumas. Vivemos outras. Algumas desnecessárias, outras improváveis. E ainda algumas, casuais. Desejamos com o corpo. Não saciamos a alma. Criamos cúmplices. Desfazemos laços. Somos tão íntegros para julgar o outro. Ideais pra dar conselhos, sem saber sequer o rumo das nossas próprias vontades. Tão seguros de si. Tão escravos de uma forma alienada de prazer que nunca parece o bastante. Que nunca nos deixa satisfeitos nem nos faz sentir completos por muito tempo.

          E assim nos perdemos outra vez, como se em algum momento tivéssemos realmente nos encontrado. Como se agora não estivéssemos apenas em busca de algum raso sentimento que nos fizesse ignorar ou esquecer que o mar sempre devolve a ressaca em ondas. Que a saudade não é mais que um velho barco preso ao Porto, cujo o destino é a memória das nossas vidas passadas, e a origem mais comum, a solidão, lá onde começam todas as histórias. Onde embarcamos acreditando que sempre iremos chegar a algum lugar, quando, na maioria das vezes, estamos apenas fugindo de nós.

           Mas haverão dias mais prósperos. Dias em que a indignação não te fará tão inquieta e agitada, tentando mudar o que não depende de você. Dias em que a correnteza e as marés seguirão a direção do seu humor e te levarão além da margem das suas prováveis razões. Dias em que a sua fé na astrologia não te fará duvidar das previsões do seu signo. Dias em que as emoções irão corresponder às suas expectativas. Dias em que o medo será expulso da sua órbita, e a força da gravidade irá te trazer de volta para o lugar onde se encontram os destroços e os vestígios da sua inocência, e do seu primeiro contato com o idealizado amor. Nesse dia você entenderá, finalmente, que se importar é necessário e fundamental, para ser importante para alguém.