quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

ENTRE METÁFORAS E LENÇÓIS






          Olho além desse momento, imagino a gente longe. Perdidos na nossa própria confusão aparente. Você diz que sabe pra onde devemos ir agora. Te olho como quem duvida que a sua sugestão será assim tão tentadora. Não diante do aconchego em que nos encontramos nesse momento, compartilhando visões do futuro na janela entreaberta das nossas almas obscenas. Vejo um filme passando em minha mente, enquanto você foge para baixo das cobertas. Reclama o ar gelado, e a minha frieza súbita. Você se torna a pessoa mais romântica do mundo pra resgatar a minha fé nesses momentos a dois. Como um cego tateando no escuro, me guio pela sua luz. Acredito nas possibilidades, quando você as insinua com um sorriso malicioso. Minhas dúvidas se dissipam como as nuvens quando absorvem os primeiros raios de sol. Nós amanhecemos insones, e abandonados à nossa própria sorte. No universo paralelo de uma cama bagunçada, onde dois corpos se acomodam como se ocupassem o mesmo espaço. se encaixando sutilmente como o prazer e o desejo, indo mais fundo a cada momento, até alcançar o ponto extremo.

            Você desperta dos meus sonhos quando me obriga a abrir os olhos. De repente, nos vemos imóveis diante do tempo e das circunstâncias que teimam em fugir ao nosso controle. Sua cabeça recostada no meu peito impede meus movimentos mais articulados. Abro mão da minha liberdade para te deixar mais confortável e à vontade. Faço dos meus ombros largos o seu travesseiro particular. 
            Espero que você acorde sem maiores sobressaltos, satisfeita e em paz com suas próprias escolhas- ao menos pelo tempo em que estivermos juntos- procurando descalça o seu salto, pisando suave o assoalho, como quem tem o cuidado de não me acordar da minha insônia, como quem não sabe bem se está no lugar certo, mas não faz questão de ir longe nos devaneios e nem sair muito depressa, a ponto de não receber um último primeiro beijo de bom dia, e um atencioso café sem açúcar, e sair com a certeza de que deverá voltar logo, e poderá pensar nisso com calma, sem nadar contra a correnteza da vontade, e nem contra a maré das expectativas.

Espero que a atmosfera silenciosa dos seus sonhos se harmonize com o canto matinal dos pássaros, para que eu não tenha que chamar seu nome logo cedo, como o chato estraga-prazeres escolhido pra te lembrar que já está na hora. Que adoraria permanecer o dia todo nessa preguiça gostosa, mas que essa não é infelizmente, uma escolha viável. Os dias não são tão românticos quanto Deus sonhou para a humanidade. Faz frio lá fora. E não me refiro a um estado físico ou psicológico. O mundo é exigente demais com os otimistas tolos e os apaixonados em busca de consolo. Eis que o despertador toca. Você levanta como um raio, que anuncia uma tempestade atrasada, mas que já está se insinuando no horizonte. Tem horário e tal. Eu entendo. Também preciso voltar à realidade. Melhor nos despedirmos das nossas frases pseudo-melosas, e das metáforas que o silêncio nos inspirou na intimidade. Temos os momentos como cúmplices e as paredes como testemunhas, do quanto foi sincero o nosso enlaçar de corpos e sensações.

            Que a memória honre o que a distância há de abraçar com dúvidas. Que a nossa saudade guarde vestígios das lembranças, como fotos capturadas no instante exato em que sucederam os fatos. E que só serão reveladas na cumplicidade secreta dos nossos sorrisos, e nos olhares indiscretos trocados em momentos únicos, quando ninguém mais percebe que aquelas duas almas já compartilharam- mais do que palavras e silêncios constrangedores- os mesmos desejos na forma de um encontro, entre metáforas e lençóis.




           

sábado, 20 de dezembro de 2014

HORIZONTES EM CONTRASTE





     Desculpe a minha estúpida incoerência de não saber puxar assuntos apenas por puxar. Eu não seria capaz de esconder meu interesse por muito tempo, e nem conseguiria ficar duas horas falando de amenidades, apenas para tentar te convencer que eu valho alguma coisa. Não entenda mal, eu sou muito paciente para muitas coisas, mas nem um pouco dissimulado para outras. Bom, talvez em algumas situações, mas não nessas. Não quando se trata de criar empatia e confiança com outra pessoa. Nessas horas, algo em mim parece gritar de forma convicta: "Quem sabe o que quer, reconhece quando encontra". E tudo segue fácil e natural, fluindo para um completo entendimento de palavras, afinidades e olhares, trocados em forma de promessas. Então você sugere que eu te espere enquanto vai ao banheiro. E eu penso alto com um sorriso distraindo o silêncio: "Logo agora que as estrelas começavam a iluminar o caminho?" Mas você sorri com os olhos, e me pede para não ir embora, assim eu sei que você volta. Não me pergunte como, mas eu aposto que sim. 

    Enquanto você demora, ajeita o cabelo ou retoca o batom- fazendo do espelho seu cúmplice e admirador lisonjeiro da sua beleza confiante- fico listando mentalmente todas as coisas a respeito de mim que eu deveria esconder, e como o idiota anti-social que eu sou, começo a pensar que te revelar algumas delas, as piores de preferência, seria uma maneira original de "não" começarmos alguma coisa. Assim, você não me decepciona, fazendo aquilo que eu espero que você faça. Ou seja, sendo previsível. E no entanto, se você for do tipo que não se importa com o passado, e que está mais interessada em quem eu sou de verdade, bem, talvez a gente se entenda fácil, aceite as nossas diferenças necessárias, e saia daqui experimentando um certo tipo de sinceridade que não estamos acostumados a encontrar por aí. Ao menos, não nos lugares onde se encontram pessoas trocando ilusões para passar o tempo.
    Bom, esse seria um bom motivo pra você me considerar diferente. Prefiro que você descubra os outros por si própria. Se conseguir passar da primeira fase, claro. Boa sorte com isso. Te ofereço algum bônus a cada demonstração espontânea de carinho e sensibilidade. E enquanto for a sua chance, os outros esperam a sua vez de jogar.
     Vou te falar a verdade, eu não sou fácil. Há muitas razões para você não gostar de mim, não posso fingir que não. A principal delas é que eu não aceito menos do que estou disposto a ofertar. Não sou do tipo que insiste quando você hesita, tampouco irei desistir quando você resolver apostar. Prefiro que você me surpreenda fazendo as coisas de um jeito diferente, e que não estou acostumado, do que apenas me convença fazendo tudo aquilo que os outros já fazem.
     Calma, que têm mais. Realmente quero que você saia daqui sabendo com quem está lidando, e com a certeza de que eu não sou o cara certo pra você. E você estará profundamente errada se vier a gostar de mim.

    Você não deveria gostar de mim porque eu não consigo ouvir duas músicas em sequência do Coldplay - embora eu até goste de ouvir uma no rádio. Porque prefiro ouvir uma sinfonia de latidos dos cachorros da rua ao invés de um show animadíssimo de pagode, ou porque penso que livros de auto-ajuda só servem pra tornar as pessoas mais auto-centradas e egoístas.
     Você não deveria gostar de mim porque eu sou em parte como todos os homens são, e sou capaz de te magoar tanto quanto outros já o fizeram. Não significa que eu o faria, apenas você deveria saber que eu posso. É mais justo e honesto que você saiba.
    Você não deveria acreditar em tudo que eu falo, não porque eu minta ou invente coisas, mas porque às vezes é mais saudável questionar os motivos que levam alguém a tentar te impressionar contando aventuras, ou relembrando histórias. Trazendo à tona fatos, dizendo coisas que ficariam melhores em um palco, com um roteiro improvisado, ou com uma cena ensaiada mil vezes pra não errar o diálogo, e fazer o beijo parecer mais excitante e apoteótico no final.

    Você não deveria gostar de mim porque eu nunca fui muito bom nessa coisa de tentar agradar apenas para conseguir chegar aonde eu quero, porque eu não costumo usar adjetivos adulatórios para demonstrar interesse. Você não vai me ouvir chamar você de linda a menos que você realmente esteja merecendo um elogio focado assim, diretamente na sua aparência. Não que pra você, isso seja difícil. Acho que você deve ser o tipo de pessoa que fica encantadora até quando acorda, com o cabelo desarrumado e remela nos olhos. Mas um verdadeiro elogio, do tipo espontâneo, desculpe, mas tem que ser merecido. Isso é cruel e idiota da minha parte, eu sei. Mas é o que considero justo nessas relações humano-afetivas. Afinal, você também não saí por aí falando qualquer coisa para qualquer um que conhece apenas para impressionar. Então, por que raios eu deveria fazer isso? Não faz muito sentido, não é mesmo? Só porque é socialmente agradável, e todos fazem, deveria se tornar uma espécie de comportamento padrão? Bom, eu sempre fui um pouco subversivo pra essas questões. É bom que você fique ciente. Se todos vão em fila indiana para o lado direito, eu fico curioso sobre o que deve haver no lado esquerdo. E gosto de ir lá descobrir antes de ter minha opinião formada sobre o assunto. 
    E além do mais, acho que há palavras que são banalizadas pelo uso constante. Acho que existem elogios que sempre são ditos com a intenção de ter algo em troca, mesmo que não pareça na hora. Por mais confiante que você seja, algumas pessoas simplesmente não são confiáveis. Mas você já está cansada de saber disso. Quando for conveniente você os aceita, senão, você os ignora e finge que nem percebeu. Estou ligado que você também sabe jogar esse jogo. E se saí melhor do que muito malandro que se julga especialista. Azar o deles. Quando pensam que te ganham pelo cansaço, você já deu duas voltas neles e já está saindo pelo outro lado, com um sorriso largo no rosto e dando tchauzinho sem nenhum remorso. É assim que você é. É assim que eu sou.

     A gente tem algumas horas para desvendar um ao outro. Não é muito se formos parar para pensar. Não é nada se compararmos com alguns casais que levam uma vida inteira. Mas talvez para nós, por agora, seja o bastante. Acho que simplificar as coisas significa ser mais direto. É mostrar logo ao que veio, o que pretende, e até onde chegam as suas intenções. Você não pode ter medo, nem julgar conhecer alguém pelo que os outros falam. Mas você pode criar seu próprio conceito. Procurando entender as diferenças, se interessando genuinamente por elas. Falando, escutando. Indagando, fazendo perguntas, compartilhando histórias. Há uma natural sequência de eventos a serem seguidas por aqui, como um mapa que leva ao tesouro. Há quem prefira ir se guiando por pistas e navegar por águas misteriosas. E há outros que são mais atraídos pela beleza do caminho, e quando encontram a ilha e o lugar perfeito onde o tesouro se esconde, até esquecem o que procuram. Preferem apreciar a vista juntos. Compartilhando a paisagem no seu livro particular de memórias, e assistindo ao pôr-do-sol, ao final do dia, refletido no mar e no horizonte dos olhos um do outro.





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PROVAÇÕES





     Espero que você ainda conserve aquela visão romanceada que você tinha sobre como a vida deveria te surpreender, renovando sempre as suas possibilidades e te apresentando novas formas de percorrer os mesmos velhos caminhos.
     Espero que você ainda se sinta merecedora daquele conto de fadas que tanto embalava os seus sonhos, e que um dia seria o seu destino ideal, misturado com toda a malícia e inocência das suas fantasias, recriando as palavras que você tanto desejava ouvir. E adaptando à pessoa que você gostaria que estivesse agora, ao seu lado, falando suave ao seu ouvido.

     Espero que não tenha colocado a sua fé no príncipe errado, e deixado que ele manipulasse toda a sua concepção de mundo, baseada exclusivamente em algum erro comum de perspectivas.
     Espero que você, mais do que  decidida ou abnegada, seja forte. Aquele tipo de força que te permite ser doce e profunda. Conhecer cada canto da sua própria alma e as artimanhas secretas dos seus pensamentos. E entender como funciona a confusão no tráfego, aqueles que ultrapassam os limites de velocidade, os que não respeitam a sequência certa de sinais, e avançam quando deveriam ficar calmos, e demoram, quando deveriam acelerar.
     Nesse caso, também espero que você seja paciente, e compreensiva. Porque acredite, você vai precisar. É a lei da oferta da oferta e da procura. Aquilo que você busca, também é algo que vai valorizar nos outros.

     Espero que a sua solidão não se torne uma desculpa para desacreditar de toda a raça humana, especialmente aquela parte imatura e menos evoluída, que vive te decepcionando por atuações previsíveis, e sempre abaixo das expectativas.
     Espero que sofrer não te torne amarga nem egoísta. Que o seu orgulho não sirva como desculpa para justificar todas as suas atitudes estúpidas, e que você não se apegue desesperadamente à razão por não saber compreender e lidar com seus erros.

    Espero que você crie e cultive suas expectativas. Espero mesmo. E com todo o amor e carinho. Não abra mão delas em troca de uma falsa sensação de segurança. Nem abdique dos seus sonhos por não se sentir capaz de de estar à altura deles. Entenda, isso tudo é essencial para chegar onde você pretende. Se preservar ou fugir não torna suas escolhas mais fáceis. Desistir é se acostumar com um vazio de nunca saber qual é o seu lugar no mundo, ou como tudo poderia ter sido melhor se você apenas se permitisse. Até para os fracassos é preciso coragem: para se levantar e seguir em frente. O momento em que você é mais forte é sempre aquele em que supera algum medo ou barreira, emocional ou física. Você tem sempre a sorte disposta a segurar a sua mão. Contar com ela é uma escolha sua. Não ser capaz de reconhecê-la é abrir mão de tudo que ela pode te oferecer.

    Espero que você seja espirituosa, a ponto de levar as coisas com uma certa leveza e uma boa dose de humor. Que saiba sorrir, mesmo que não encontre motivos, e que faça alguém sorrir, quando sentir que isso é preciso. Apenas pelo hábito, e não por esperar nada em troca. Como quem flerta com a felicidade, e recebe de forma discreta, a sua resposta.
    Espero que você aceite e reconheça a sua diferença. Aquilo que te faz ser autêntica e única diante dos desafios que virão pelo caminho. Espero que não se perca tentando provar nada para ninguém, mas conserve aquele jeito simples de encarar a vida, e enxergar as pessoas muito além do que elas demonstram ou parecem ser.

    Para o bem ou para o mal, espero que você seja feliz. Que não se acomode diante das dúvidas, que não incomode ninguém com a sua pretensa loucura. Mas que desperte olhares, atenciosos e sinceramente interessados. Que receba e distribua sorrisos, simpáticos e espontâneos. Colhidos em momentos de confiança mútua, e florescendo como a cumplicidade nos primeiros encontros.

    Espero que acima de tudo, você continue acreditando. Que não perca a fé e a esperança de que o melhor ainda está por vir. Que conserve aquela mania de assistir filmes românticos, e se perguntar se aquilo tudo existe. De embarcar nas suas próprias viagens, entre leituras, músicas e coisas que não cabem na bagagem. E que você leva na lembrança para nunca esquecer onde deixou.

     Espero que você nunca deixe de enxergar significado nas pistas e sinais que o amor deixar pelo caminho. E que saiba fechar os olhos, quando a vontade convidar seus pensamentos a descobrir para que lado é o seu destino.
    Que o seu roteiro seja cheio de promessas, concretizadas em forma de sorrisos. E que ao olhar para qualquer direção, no horizonte ou além do momento presente, você saiba reconhecer que a espera valeu à pena, e que algumas convicções, por mais que nos tragam dúvidas e inquietações momentâneas, só se afirmam na nossa história quando atravessam as provações do tempo.




sábado, 13 de dezembro de 2014

SUPERFICIALIDADES E DISSIMULAÇÕES





              Se você se interessa por alguém e não demonstra, você já está jogando. Se essa pessoa tiver a iniciativa de ir até você, e começar uma conversa, ela vai saber que está entrando no seu jogo. E assim, começam as dissimulações e as falsas impressões compartilhadas com a intenção de criar a imagem ideal do que a outra pessoa procura. 
            Não haveria nada de errado nisso, afinal, todo mundo sabe que é assim mesmo que as coisas acontecem, não há ingênuos nesse jogo. 
            A questão, que parece fora de contexto, é compreender com que razão as pessoas querem depois cobrar envolvimento, entrega e um significado profundo para o que estão vivendo. E ainda se acham dignas de sentimentos reais e altruístas, tais como: sinceridade, fidelidade, respeito, consideração, e por aí vai... Isso sim, é tolice e ingenuidade.

            Onde existem dissimulações e jogos de interesse, não prevalecem regras de conduta, nem resquícios de caráter, nem nada parecido. Só existe o desejo, cego, ávido e momentâneo; E a manipulação, forjada, para se ter e conseguir o que se quer, na hora e da maneira que se quer. E se você cai nessa, desculpe lhe trazer as más notícias, mas você não é vítima de nada, nem nunca foi. Então, não se iluda querendo culpar alguém pelos seus erros. Ninguém te enrola ou te engana sem a sua permissão ou seu consentimento. E não existe lei ou carma divino para isso. Não adianta querer reclamar seus direitos, ou arquitetar vinganças para curar o seu ego ferido. Você perdeu e isso é tudo. Aceite. Aprenda. Tire algum proveito disso.

            Se você começa uma aventura baseada em um joguinho típico de conquista, baseado única e exclusivamente em interesses e aparências, é meio óbvio que isso não vai longe. E se tiver alguma sobrevida, é ainda mais previsível que será algo superficial, cada vez mais vazio de sentido e que no final, você terminará se perguntando: "Onde eu estava com a cabeça quando achei que isso poderia dar certo?"

            Mas pior do que não dar certo, é você fechar os olhos, e não aprender a lição. É repetir como um mantra ensaiado da estupidez que: "não era pra ser...", ou que "a vida é assim mesmo..."- é olhar para os acontecimentos com uma conformidade ignorante, de quem foge das suas próprias responsabilidades, e finge não saber o que aconteceu. Mas você sabe. Você sabe perfeitamente onde erra. Você sabe o quanto é mais fácil culpar sempre os outros pelos seus erros. Você sabe que negociar sua confiança e seu amor próprio em troca de alguma emoção breve e passageira nunca acaba bem. E você sabe que no fundo, sofrer contra a sua vontade, não é o tipo de dor que te trará nenhum prazer. 
            Ah, mas você é forte. Mas também precisa ser inteligente. Ah, mas você não se apega. E nem precisa, nesses casos não daria nem tempo. Você já deve ter lido em algum lugar que a gente só atrai aquilo que transmite. Bem, suas decepções estão aí, e não me deixam mentir: Está mais do que na hora de você começar a demonstrar de uma forma mais clara e decidida, tudo o que quer e deseja encontrar por aí.

            Quer ser feliz e encontrar alguém que preste ou que não te faça perder tempo? Comece sendo alguém de verdade, real, espontâneo. Não decore suas falas, não invente um personagem só para impressionar. Comece olhando fundo nos olhos da felicidade. Comece sorrindo pra quem você gostaria de conhecer um pouco mais. Quer fazer charme? Tenha certeza do que você procura. Deixe isso claro, sem insinuações ou promessas de campanha. Jogue limpo. Ou, melhor ainda, não jogue. Depois que todo mundo já conhece as regras do jogo, não há mais nenhuma vantagem em saber como ele funciona. 

            Você não é autêntico fazendo apenas o que os outros já fazem. Você não se destaca ou chama mais a atenção querendo fazer tudo para mostrar que é diferente. Você é o que você é. Isso basta. E quem gostar de você, vai preferir saber quem é essa pessoa. Pode apostar nisso.
            Quem quiser sinceridade, vai valorizar sinceridade. Quem tiver atitudes, vai reconhecer atitudes. Quem estiver em sintonia com você, vai estar na mesma freqüência que a sua. E assim, as coisas vão seguir o seu curso, de uma forma natural, e nada complicada. Porque o que é "para dar certo"; o que é "para ser", só acontece de fato, quando a gente tem certeza do que está procurando, e quando, antes de algo ou alguém vir a ser alguma coisa para nós, a gente mesmo é.





domingo, 7 de dezembro de 2014

POR UM ENCONTRO OU UMA BEBIDA...


     


      Te encontro ao acaso de uma noite sem planos, parada na sua, à espera da sua bebida colorida, fazendo sinal para o bartender distraído. Você tem pressa, e uma multidão pela frente para retornar ao seu lugar favorito. Sua amiga esta lá, desesperada, ouvindo besteiras e coisas inconvenientes. Mas ela é guerreira, e aguenta, e não se estressa, e ainda guarda o seu lugar improvisado e sem numeração. O show está quase começando. Você deseja estar perto do palco. Acha que lá consegue sentir melhor a vibração e a energia da música. É uma concepção muito particular sua, de que é preciso fechar os olhos e se deixar envolver pelo que rola ao seu redor.
      Até seria bom ter alguém interessante para iniciar uma conversa, só para tirar um pouco o foco dos problemas, distrair o ego e a cabeça, de preferência na hora em que não estivesse tocando uma das suas canções favoritas. Seria melhor ainda se ele não viesse com as mesmas cantadas prontas de sempre, assuntos fora de contexto, e que não te elegesse a segunda ou terceira opção da noite. Não que seja um pré-requisito determinante, mas se ele fosse naturalmente charmoso, conservasse algum estilo próprio, e soubesse conduzir uma conversa de forma espontânea, dosando um pouco de humor com um interesse genuíno pela sua pessoa. Bom, não seria nada mal! Elegância, beleza e simpatia sempre colaboram para que as coisas fluam melhor em casos como esse, você sabe, mas também não estão no topo da sua lista de prioridades. Não diante das circunstâncias em que a noite se apresenta.
     Sua bebida ainda está demorando. O que houve com esse garçom? Foi procurar no estoque os ingredientes da sua poção mágica e entorpecente? Talvez fosse melhor ter apelado para um bom e velho chope. Mas a semana na academia não recomenda. É preciso ser forte, como diz sua personal. E manter a calma numa hora dessas, com tantos chatos te importunando. Você nem sabe qual ignora primeiro. Ser educada nesse caso, pode parecer um incentivo a ir em frente. Melhor ficar calada e sinalizar para sua amiga que já está quase desistindo. Mas ei, eis que ele reaparece, o bartender amarrado, talvez seja agora a sua hora de ser atendida. Finalmente, uma bebida sintética e álcoolorida saindo... 


     Você precisa é de uma ajudinha do acaso, isso sim. Um sorriso com patrocínio da sorte, e promovido pela chance de encontrar diversão e reconsiderar seus motivos, e conceitos formados sobre a superficialidade de tudo que acontece na noite. Algo que te faça dançar a noite inteira, e nem ver passar o tempo. Tipo uma dessas coincidências inexplicáveis que a gente sente que vão nos trazer boas recordações no futuro. Que vamos ficar brincando de adivinhar qual era a roupa que usávamos, qual a música que tocava, ou qual a comida que pedimos. O que esperávamos encontrar quando saímos de casa, quais eram as nossas reais expectativas...
     A gente nunca sabe quais são. E por mais que se negue, elas estão sempre lá, marcando presença, cercando sutilmente as nossas impressões. Como alguém que conhece todos os nossos hábitos e manias, e insiste em querer saber mais, mesmo diante do aviso de:"Cuidado, não se aproxime!" Como se isso representasse um incentivo, e não um considerável risco diante das circunstâncias em que você se encontra. Todos somos vulneráveis quando nos envolvemos com outra pessoa. Isso é inevitável. E diante desse fato, é melhor conservar expectativas realistas ao invés de tentar ingenuamente acreditar que é possível evitá-las por completo.

     No fundo, tudo é surpreendentemente novo. Os começos são sempre cercados de uma aura de mistério e descoberta. Quem se acostuma com eles, é capaz de passar a vida inteira conhecendo pessoas, e nem reclamar de não voltar a vê-las. Tudo é baseado no clique instantâneo do olhar que cola, do jeito que combina, da intenção que vai de encontro ao desejo propriamente dito, ou não dito, mas sentido, de uma forma que não deixa dúvidas: o que acontece ali precisa ser vivido. É para ser, e não hesitar.

    Mas não foi nosso caso. Acho que a gente meio que sabia bem o que queria. Acho que desenvolvemos aquela percepção de adivinhar logo de cara o que havia de secreto nas nossas razões subentendidas. Nós fomos direto ao ponto, e o ponto era exatamente onde nos encontrávamos, à espera de alguém que mexesse com nossas convicções de improviso, que nos tirasse de um estado de seriedade comovente, e mudasse o nosso conceito sobre a impossibilidade de concretizar qualquer coisa real e que valesse uma boa saudade depois. E assim, nós botamos fé um no outro, e de repente, isso foi o que fez toda a diferença. Foi o que nos deu base para sustentarmos nossa visão de mundo, e compartilharmos nossas célebres experiências em forma de histórias. Eu falei, você me ouviu. Você falou, eu te dei atenção. Houve um contraste interessante entre olhares, gestos e palavras. E isso foi fundamental. Agora, não sei. Isso talvez sirva como um radar para identificarmos potenciais romances. Possibilidades relevantes, encontros promissores. 
     Talvez o que deu certo no passado seja como um GPS para um caminho no futuro, e nós devemos nos basear naquela voz interior, naquilo que sabemos que nos capturou de alguma forma, por breves momentos, ou pelo tempo que foi necessário, ou que nós nos permitimos viver plenamente, e fomos deixando acontecer, até onde o destino foi capaz de nos levar. 


    É simples, se você pensar. A gente dificulta por medo de voltar a cometer velhos erros e se ver batendo novamente contra um muro de concreto das emoções não desejadas. Mas não importa, lidar com outro universo é assim mesmo, uma estrada itinerante com belas paisagens e informações desencontradas, que nos guiam conforme a posição das estrelas e a direção dos ventos. E nos ensinam a seguir o que acreditamos ser o melhor caminho. A intuição é o nosso único recurso confiável, e as sensações, o nosso combustível vital. Há sempre um destino ideal, camuflado de sonhos, ricos em detalhes e um horizonte, que parece mais próximo, à medida que nos afastamos do que pensávamos ser a única alternativa possível.
     Mas a melhor parte da felicidade ainda é que ela não se resume à algo ou alguém, nem se restringe a um momento ou outro. Você pode estar aí parada, observando o movimento, ou ansiosa esperando alguma coisa que demora, mas quando menos esperar, de repente, ela te pega de novo de jeito, te puxa com força e delicadeza pelos cabelos e te olha fundo nos olhos, como quem diz: "Esqueça o que estava procurando, eu tenho coisa bem melhor para mostrar pra você."
     E assim, quando a sua bebida finalmente chega, você já não está mais tão sedenta e apressada, e nem mais tão a fim de beber, seja para lembrar, ou para esquecer... Você só pede silenciosamente que toque novamente aquela música, que quando tocou você nem percebeu. E torce, para que não esteja sozinha, cultivando a esperança, de que essa noite termine melhor do que começou. E que as possibilidades agora, mais uma vez se renovem por mais algumas estações...



terça-feira, 18 de novembro de 2014

MODERNIDADES IMPOSTAS






     Relacionamento com perspectivas de futuro é coisa pra duas pessoas maduras, decididas, que sabem o que querem da vida, e isso inclui um ao outro. Relações assim têm grandes chances de darem certo.
    Agora, aquele outro tipo de relacionamento que anda tão na moda hoje em dia, onde as pessoas ainda querem manter a mentalidade de solteiros, e fingem que a outra pessoa não é importante, e que é facilmente descartável, enquanto fazem joguinhos para se valorizarem, testando para ver quem tem o poder, ou quem manda mais em quem. Cá entre nós, isso não é sério. Tampouco é divertido. No fundo, isso não passa de uma brincadeira infantil e despretensiosa.

    Geralmente, são como duas crianças mimadas brigando pelo mesmo brinquedo, e quando um conseguir, vai deixar ele jogado em um canto, porque já não tem mais graça. É a ilusão do desafio, dizem alguns sábios do comportamento humano.
    Pessoalmente, eu não me adapto a nenhuma dessas baboseiras que a modernidade quer nos impor ou empurrar goela abaixo. Acho que sou chato e retrógrado ao extremo, porque não sinto nenhum interesse por esse tipo de envolvimento. Nem entendo qual o estímulo que as pessoas sentem em serem destratadas, enroladas ou feitas de bobas. Ah, mas tem que ter um charme! Que charme há em não ter certeza nenhuma de nada? Viver entre dúvidas, tendo que imaginar ou adivinhar o paradeiro ou o real interesse do outro, com quem você se juntou para poder contar e saber que tem alguém para ficar ao seu lado, sempre que precisar. Me desculpe, mas charme tem a ver com presença, com um jeito espontâneo de sorrir, de olhar nos olhos enquanto falam, e se descobrem, fazendo perguntas, interpretando respostas, compartilhando silêncios. Charme é mostrar a que veio, e não se esconder para parecer melhor do que é.

    Ah, mas daí tem a parte boa! Que parte boa? A parte em que você não está em dúvida, insegura(o), desconfiada(o), sem saber onde o outro anda porque ele, ou ela, decidiu que especialmente hoje vai te atender na primeira chamada, ou vai responder sua mensagem sem esperar duas horas pra você não pensar que ele estava a postos para você? Enquanto você agradece aos céus porque pôde contar com aquela rica pessoa nesse dia. E nos outros? Só Deus sabe. Vai depender da disposição, do tempo, do alinhamento das estrelas, da sua conjuntura astral...
    Em que mundo, isso é algo minimamente excitante, ou atraente? Porque pra mim, é apenas previsível e maçante. Será que precisa de tudo isso para tornar uma relação emocionante ou sentir um interesse genuíno pela outra pessoa?
    Mistério é bom no começo, para nos prender ao enredo e permitir nos surpreendermos com o rumo das coisas. Depois disso, fica supérfluo, desinteressante, como um roteiro sem pé nem cabeça, onde as cenas são soltas e não fazem nenhum sentido. A gente torce para que chegue logo o final porque não aguenta mais assistir uma história que se arrasta e cujo desfecho só revela mais e mais incoerências e uma tremenda falta de criatividade.

    A única cumplicidade que imagino nesses casais é na hora da briga, quando um decide não falar mais com o outro por alguma besteira dita sem pensar. Então, ambos vão, cada um para o seu lado, cheios de orgulho e medo, torcendo para que o outro dê o braço a torcer primeiro. Porque se depender de assumir erros ou pedir desculpas, adeus, já era, não rola mais...

    Eu leio nas entrelinhas desses relacionamentos uma tremenda falta de amor próprio. E é fracasso na certa. Decepções a curto prazo. Em pouco tempo, serão dois tristes amargurados postando indiretas e desejando que o outro se exploda porque não aguentou as suas birras. E assim vão seguir, desviando das desilusões, tropeçando na própria vaidade, sem aprender coisa alguma nem refletir sobre nada, até encontrar outra criança disposta a brincar de casinha, e mudar o status do Facebook pelas próximas duas ou três semanas.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

UM ATÉ LOGO, NÃO UM ADEUS...







      Lá se vão nossas ilusões mais uma vez desfeitas na pressa de arrumar a cama, tentando improvisar alguma frase que soasse como um até logo, e não um adeus. Todas as chances depositadas numa noite sem maiores expectativas, elas não nos fariam arriscar mais do que uma saída despretensiosa, na companhia oportuna de algumas velhas caras conhecidas. Nada que estivesse no meu quadro imaginário de um encontro perfeito. Mas você estava lá, e você tinha a seu favor, a minha carência momentânea de um olhar mais profundo. E você me viu, e mais que isso, me enxergou, ainda de longe. Mirou meu ponto fraco, e foi direto na direção das minhas dúvidas. Parecia que você sabia de cor todo o meu roteiro confuso, e que havia improvisado as falas, segundos antes de subir ao palco. Tudo muito bem ensaiado. Mas sem perder a espontaneidade diante de qualquer necessidade de lidar com imprevistos.

De repente, pareceu que nós tínhamos alguma coisa em comum, fora a sensação de já havermos nos visto antes. Em outra vida, talvez. Acho que nós já sabíamos onde tudo isso ia dar. Tive esse estranho pressentimento de que você ainda iria regar minhas plantas, brincar com meu cachorro, sorrir, compartilhando comigo, alguma observação trivial, que nos fizesse chegar a uma mesma conclusão sozinhos, e dividir o pensamento em duas partes: a minha e a sua. Dois pontos de vista: O antes e o agora. E nós nos complementaríamos fácil, sem nunca deixar de ser inteiros. Porque é assim que relacionamentos promissores começam.

            Combinamos nossas desculpas, e até improvisamos nosso álibi para quando faltasse o assunto. Logo os beijos substituíram os silêncios constrangedores; E quando nada mais restava a se fazer: embarcar ou acenar, vendo o barco partir. Nós embarcamos. De olhos fechados e impulsos sob controle. Foram os passeios mais demorados e agradáveis da primavera com cara de verão. E renderam talvez, um passatempo divertido, para ocupar nossas mentes pelas próximas semanas, ou estações. Por enquanto é o que podemos afirmar do que estamos vivendo.

            Não vamos brincar de prever o futuro. É uma diversão perigosa. Pode tirar toda a emoção do momento. Eu sei que você gosta de certezas. E sei que eu as ofereço quase que de forma inconsciente. Porque te vejo muito além do que os outros veem. E te abraço como quem abraça um sentimento, mais do que dois corpos que se completam. E nós sabemos até onde vão os nossos medos, e lidamos com eles de forma corajosa e atrevida.
Você é simples. Isso te torna especial aos olhos de muita gente. É difícil ser simples hoje em dia. Muita gente complica em busca de aceitação, como se precisasse provar algo para o mundo, e se importasse demais com que as pessoas pensam. Você é meio desligada dessas coisas. Isso é essencial para o seu temperamento. Como se parte do seu charme e do seu brilho estivesse em não se preocupar com o que não lhe diz respeito. Isso é raro. Admiro isso em você. Espero sempre pelo seu sorriso para confirmar que o dia vale realmente à pena. Mesmo longe, nós ainda somos vizinhos de pensamentos. E eu gosto de pensar em você, como quem precisa se focar em alguém que justifique o que sente. Isso nos dá segurança. É uma sensação que não pode ser desperdiçada em troca de aventuras de uma só noite.

            Por isso, quando te olho indo embora, sempre reflito sobre os nossos encontros, e me pego torcendo para que eles voltem a acontecer. De preferência, que não demorem tanto. Que a distância não nos force a ser estranhos pelo tempo sem notícias. E que a solidão seja uma ponte que nós possamos atravessar juntos, sem que você largue a minha mão. Que o nosso último olhar trocado, antes que alguma porta bata ou que alguma viagem nos leve para longe, seja um olhar de promessa. De recomeço. Um até logo, não um adeus...




sábado, 8 de novembro de 2014

ATÉ AQUI, TUDO CERTO...






   
O teu amor é a paz que acalenta o meu sono. É a inspiração que me faz adormecer e acordar todos os dias, imaginando todas as possibilidades que estão lá fora, nos esperando. Sorrindo, como um convite para todas as viagens e circunstâncias do acaso, que irão esbarrar conosco numa próxima esquina. Elas estarão disfarçadas de coincidências, mas nós saberemos reconhecê-las pela sua verdadeira face. Nós entenderemos que não se trata de convencer ninguém de nada, mas sim, de reconhecer o nosso próprio destino. 

            Toda a calma do mundo se reflete agora em teus olhos. Quando por um momento, tudo parece mais difícil e complicado, e todas as nossas forças se esgotam na tentativa de superar nossos limites. Eu me refugio na tua serenidade, para entender que o pouso da minha alma só encontra conforto quando me aninho e sou envolto pelo alívio instantâneo dos teus braços.
E adormeço em teu colo, trocando momentaneamente de lugar com você. Que agora é meu porto seguro e o lugar para onde sempre desejo voltar. É a sua vez de me cuidar e me fazer sentir que nada nesse mundo poderá ficar entre a gente.

             Eu passei muito tempo, me convencendo de que tudo acontece quando tem que acontecer, que não se pode desperdiçar a paciência, negociando o próprio equilíbrio em troca de afirmação. Há um universo de coisas que não valem a nossa angústia. A única coisa que me inquieta agora nesse mundo são os segundos que se recusam a passar, quando estamos já tão próximos de realinhar nossas existências. Em um mundo de pessoas rasas, encontrar um significado profundo parece um desafio maior do que provar que podemos dar certo. 

            Tudo se resume a uma palavra: confiança. É ela que nos leva adiante, que determina a medida do nosso alcance, e o quanto as nossas afinidades vão relevar as nossas diferenças.  
            É uma busca incessante pela eternidade. Atravessar labirintos de caminhos duvidosos, percorrer rotinas de dias lastimáveis. Ver sentido nas coisas mais simples, é um segredo que poucos reconhecem e sabem usar a seu favor.
            É como se estivéssemos ligados por uma linha invisível que nos aproxima de quem está enfrentando as mesmas batalhas que nós. E existe alguma coisa que nos faz acreditar que iremos prevalecer, que permaneceremos juntos pelo tempo que for necessário. Pelo infinito que parece durar mais do que uma estação contingente e mais longa do que o normal. E não há nada que nos faça hesitar, quando sabemos para onde desejamos ir. 
            Impossível prever onde termina essa estrada. Não há horizonte indicando a chegada, nem qual a parada mais próxima para abastecermos e descansarmos nossos olhos. Vamos então renovando as nossas energias, brindando às nossas incoerências. Escutando o som de alguma frequência desconhecida, que sintonizamos a alguns minutos no rádio, e brincando de adivinhar o futuro.

Qual será o nosso próximo destino, de acordo com a próxima música: Se for uma balada romântica, iremos para o Norte, se for um clássico do Rock, iremos para o Sul. A expectativa do nosso futuro é simples, e se resume a manter nossas escolhas simples, e sob o controle das nossas intenções.

            Enquanto dividimos nossos sonhos, e sorrimos para estranhos na rua, bebemos nossa solidão em um gole, e abraçamos as ilusões sem culpa.
Entre um beijo e outro, nossos desejos não nos consomem, ainda assim seguem mais fortes do que nós. Isso nos mantêm unidos- mas não é o que nos faz mais fortes.
 Há um silêncio do qual somos cúmplices. Como um momento onde não cabem palavras. Nossos olhares se encontram por um segundo, e até as nossas contradições parecem ganhar algum significado. Todos os medos desaparecem como que, por mágica, e tudo o que vivemos até o presente, não é nada, perto do que ainda nos espera.

            Escolhemos assim a sorte da nossa próxima parada. O futuro é um lugar que ainda não conhecemos. Mas sabemos que o destino é estarmos juntos, isso é tudo que importa nesse momento. No rádio inicia uma canção conhecida. Sabemos agora para onde estamos indo. E sabemos, acima de tudo, que não importa qual for a música, nós sempre estaremos em sintonia com os motivos que nos fizeram chegar até aqui.









sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O CAFAJESTE QUE VOCÊ TANTO AMA...






    Caras como eu só servem pra lembrar garotas como você, que estariam bem melhor sozinhas. Toda a amargura e frustração que resultar desses encontros vazios e intensos que nós teremos, só vão te levar a uma visão mais solitária da vida. Mas você insiste, porque se sente incapaz de recusar algo assim. Simplesmente, foge do seu controle. E tentar entender, não te faria querer menos. 

    Você me olha, e sabe o quanto isso provoca em você sentimentos distintos. Você não pode saber por onde eu ando- isso te deixa curiosa. Mas você finge que não se importa, contanto que, quando estivermos juntos, eu te faça sentir tudo aquilo de novo. Você não liga, se eu não te ligar; Você vai criar alguma desculpa plausível pra justificar a minha falta de notícias. E vai brigar com suas amigas que afirmarem que eu não presto; Você vai bancar a louca, e até vai perder a pose, sempre que eu voltar, prometendo que mudei. Mesmo que no fundo, você saiba, que isso só vai durar até eu sumir novamente. Eu vou te deixar, quando você mais precisar, e sem dar maiores explicações. Por um tempo que você nunca sabe o quanto vai durar.
    Você não tem controle sobre nada que diz respeito a mim. E você sabe disso.
    Isso mexe com a sua imaginação de muitas formas- te faz entrar em paranoia- e quebrar a cabeça tentando achar respostas, que nunca bastam para justificar para si mesma, as razões que te faltam para sequer entender, o que só sabe sentir.

   Todos estão a seus pés, mas para mim, você parece ser apenas mais uma. E isso te inquieta, ao mesmo tempo em que te deixa louca. Você vive intrigada, tentando aceitar o que não compreende. Me vê como alguém complicado e que precisa de ajuda, da sua ajuda, claro. Porque você tem a cura para o meu mal. Já criou mil teorias para explicar porque eu sou desse jeito, tão à prova de sentimentos e tão arisco a relacionamentos, que sejam mais sérios do que divertidos. No fundo, você me acha difícil, e me julga um desafio. Isso desperta o seu instinto mais básico de querer competir, e não se importar em fazer papel de trouxa, e querer sempre mais daquilo que não pode ter.

   Mal sabe você que eu sou fácil, e nada confiável. E todas as suas amigas que insistiram em provar, acabaram descobrindo que eu não tenho nada demais. Eu não sou especial como você quer acreditar, nem melhoro com o tempo como seu amor poderia supor. Não há como me salvar, nem me proteger do mundo. Eu vou te deixar quando você adormecer, e não vou te ligar no dia seguinte. E não quero e nem me importo que você pense mal de mim, na verdade isso não faz a menor diferença. Você se pergunta como alguém tão idiota e egoísta, pode ser tão generoso e dedicado na hora do prazer, mas isso é só pra enaltecer o meu ego. Eu não faço amor com você. Eu transo com minhas próprias expectativas. E eu não entendo você como você pensa, isso é só fingimento. Dizer o que você quer ouvir é um truque velho e barato. Eu, tampouco sou sincero. Todas as minhas verdades são inventadas, e funcionam bem, não porque eu seja assim tão convincente, mas porque você é ingênua. E só quer acreditar naquilo que precisa para justificar pra si mesma o que sente por mim.
   Você odeia se sentir assim: encantada. Mas entenda, a culpa não é toda sua. É que caras como eu, estão mais que acostumados, a usar certas máscaras, e fingem ser o que não são tão bem, que até se esquecem de quem são de verdade.

   E você precisa passar por esse tipo de caras, para entender que você merece mais, muito mais que isso. Precisa aprender a valorizar as qualidades de alguém que se interessa em ver você com outros olhos, com outras intenções. Você já deveria estar cansada de tantos babacas fingindo ser legais só pra te impressionar. Deveria observar e sacar, até de longe, o quanto vale o caráter, e não a roupa nem o carro. Procurar conhecer a família, e não qual o círculo social. Você deveria saber que todo homem é um cafajeste em potencial, mas que alguns poucos ainda escolhem ser cavalheiros, e se importam com os seus sentimentos, mesmo que não venham a ganhar nada com isso, e são educados, e tem por hábito, serem gentis. E é para esses que você deveria estar olhando agora.
   O cafajeste que você tanto ama não representa nada, perto do homem que você ainda vai amar um dia, quando perceber que o amor e a felicidade verdadeiros só chegam, para as pessoas maduras e bem-resolvidas.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A RAZÃO DO MEU SUMIÇO






             Por que você sumiu?- ela pergunta, depois de algumas estações desencontradas. Ele hesita em responder. É estranho não sentir mais vontade de justificar suas ações para ela. É como se agora houvesse a liberdade de serem estranhos, e não deverem mais nada um para o outro. 
            Ele pensa em muitas razões para completar suas reticências. Mas não se sente obrigado por nenhuma delas. Talvez por educação, ou pela ausência de qualquer rancor, apenas deixa escapar algumas breves palavras. Nenhuma delas tem o poder de amenizar aquela súbita curiosidade que surge do nada, e se mostra surpreendentemente interessada. Nenhuma delas seria capaz de transpor aquele espaço insondável de distância que restava agora entre ambos. Como se depois de qualquer final, só restassem mesmo os abismos e as lembranças- outrora agradáveis- e no minuto seguinte, apenas, constrangedoras.
            E ela ainda perguntava por que o sumiço, como se aquele tanto de presença já não fosse o bastante para explicar qualquer desaparecimento súbito. Era perfeitamente compreensível.

            Seria mentira dizer que não sumi. Que estive sempre ali, no mesmo lugar. Que ela sabia onde era o meu endereço, e sabia muito bem onde me achar. Mas acontece que eu não queria mais ser achado. Então, por acaso, eu me mudara. Fui morar longe dali. E sumi, sem deixar vestígios de mim em nenhum lugar pela casa. Sem pistas de que estive ali, e nem restos de memórias que denunciassem por onde eu havia estado.

            Sim. Sumi. Sumi, como somem as roupas quando saem de moda. Como somem as canções quando já não fazem mais sucesso e deixam de ser tocadas. Sumi porque precisava de reciclagem. Respirar sem sentir o ar rarefeito. O clima pesado das contradições aparentes. As ideias embaçadas pela culpa no retrovisor.
            Sumi porque precisava, acima de tudo, perdoar a mim mesmo. Fazer as pazes com os meus próprios dilemas. Voltar a me ver como alguém capaz, que valesse à pena, investir e perder algum tempo. E que, pudesse sentir novamente alguma coisa real, verdadeira. Que estivesse pronto para o que viesse. Sem ressalvas nem recaídas de última hora.
            Sumi porque não aguentei a barra de ver você seguindo em frente. Porque não consegui me esconder em outros desejos. Porque não achei justo brindar à esperança em copos de plástico, nem curar a ressaca das noites insones, frequentando outras solidões.
 Então, sumi. Porque haviam coisas que precisavam ser feitas. E elas exigiam de mim, alguma dedicação silenciosa. Sumi, porque os nossos lugares em comum estavam ficando manjados. Pareciam haver nossas digitais em cada canto. O beijo dado na hora imprópria. O primeiro olhar sequestrando o interesse, e fazendo-o refém por longos períodos de intenções não-declaradas. Sumi porque nunca fui bom em decifrar os enigmas da saudade. Como se as peças que faltavam não encaixassem. Por não saber lidar com os labirintos sem saída da memória. Ter que lembrar de te esquecer era demais pra mim. 
    Tudo isso, acontecendo ao redor, e as emoções nos indagando sobre a possibilidade da volta. Eu não dei conta. Sumi pra não enlouquecer.
Tão rápido quanto o sol se esconde no mar, nos olhos poentes do horizonte anunciado. Fugi na direção contrária, para o bem de todos que esperavam alguma coisa de mim. Já não tinha nada a oferecer, exceto a minha própria confusão. E isso não bastava.
A melhor coisa que poderia fazer era sumir para sempre do seu mundo, e recomeçar novamente em algum outro universo ou galáxia, onde ninguém soubesse quem eu era, quem nós fomos, e o quanto deixamos para trás, sem pensar duas vezes.

            Porque é assim que os loucos abrem mão da felicidade: Jogam fora os seus planos de uma vida toda em troca de uma chance de provarem que estão certos. Como tolos teimosos- incapazes de reconhecer seus erros- se apegam a conceitos superficiais de como as coisas deveriam ser. E essa competição contra os seus próprios ideais imaginários é o maior atestado de fracasso que alguém pode assumir. É o fim de todo o argumento aceitável que poderia desfazer qualquer breve mal entendido. E tudo vira uma disputa, alguma triste briga sem motivos, uma eterna batalha de egos, entre vidas vazias e em busca de sentido, tentando provar para o orgulho, quem é melhor que quem. 
            E por não suportar mais isso, eu sumi. Desisti de tudo o que não fazia mais sentido pra mim, e decidi sair de cena, sem maiores cartazes nem uma última dose. Apenas eu, seguindo adiante. E uma estrada longa e infinita me convidando, me chamando para a dança. Como eu poderia recusar? Era a minha chance de deixar tudo para trás. Era melhor assim.
            E hoje, ao me encontrar comigo, levo essa certeza- que se afirma mais a cada dia- sumir, foi a melhor coisa que eu fiz.



domingo, 2 de novembro de 2014

A DIFERENÇA





    Te peço uma coisa: Venha para fazer a diferença. Não seja mais um babaca pretensioso na minha vida. Acredite, eu já tive a minha cota de fracassos e não estou interessada em repetir velhas e amargas experiências. Uma das minhas melhores qualidades é que eu aprendo rápido. Não preciso ficar passando por tudo mil vezes para entender que não é pra mim. Que não vou ser feliz desse jeito, e que há um limite para o quanto se pode esperar de alguém.

   Então, crie esse selo de aprovação na sua marca. Seja um produto que se vende sozinho, pela eficácia e originalidade. E não um com defeitos, do tipo que você vai no Procon reclamar e acaba ouvindo como resposta que não se pode fazer nada. Que é assim mesmo...
    Seja gentil, seja cavalheiro, e me trate como a mulher especial e única que eu adoraria sentir que sou, mas nem sempre consigo. Hormônios, paranoias, inseguranças... Você não entenderia. E nem tem que fingir que entende. Você não precisa fingir coisa alguma. Quer saber como ser autêntico? Seja você mesmo. Esqueça o que acha que aprendeu com seus amigos que se julgam experientes porque já "pegaram" três na mesma noite, ou seus relacionamentos super maduros que se resumiam a quem manda mais em quem.

    Tire essa capa do herói que vem pra resgatar a mocinha. Isso é só uma forma pseudo-machista de ter o controle de tudo. Comigo, você não vai precisar disso. Já conheci muitos caras assim, e eles nunca foram capazes de me oferecer verdadeira companhia. Eu não era mais uma donzela em perigo clamando por ajuda. Era uma garota se sentindo solitária e carente, e estava morrendo de tédio ao lado de alguém com quem sabia que não poderia contar quando mais precisasse.
    Você não sabe o poder que tem um gesto de consideração. Experimente se importar, isso muda todo um conceito formado por anos de ligações nunca retornadas no dia seguinte.

    Entenda, eu preciso confiar em você antes de me entregar completamente. Isso leva tempo. Sei que você gosta de chegar logo aonde quer, mas nesse caso, nós somos muito diferentes. Eu preciso ser estudada- como uma ciência que não é exata- e descoberta, com calma. Há lugares em mim que nunca foram tocados. Que nem mesmo eu faço ideia que existam. Seria bom saber que você vai dedicar algum tempo pra me mostrar coisas sobre mim que ainda são um completo mistério. É o tipo de coisa que me faria olhar pra você com outros olhos. Não aquele brilho romântico dos que fazem mil viagens sem sair do lugar, mas uma admiração mais profunda, de quem gosta de ser surpreendida, e não costuma experimentar essa sensação muitas vezes.

    Agradeço se você for capaz de me compreender, de relevar meus desatinos esporádicos e enxergar que, por trás desse ar de mulher bem-resolvida, existe uma garota hesitante, que não acredita em astrologia, mas sempre dá uma espiada no seu signo, que tenta interpretar o sentido oculto dos sonhos, e associá-los com a realidade do que está vivendo. Que acredita em sua própria intuição, quando conhece outra pessoa, e em fazer sua própria sorte, quando quer alguma coisa. Alguém que não dúvida do que não conhece, mas desconfia do que parece muito fácil. E que precisa de uma mão pra segurar em dias de tempestades, quando o silêncio dos seus pensamentos é tão alto que até abafa o estrondo dos trovões lá fora.

   Seja paciente. Seja sincero quando achar que algo não estiver certo. Deixe eu decidir se gosto de você, descobrindo como é realmente. Eu não quero mais um produto criado para impressionar com academias e diplomas. Quero alguém que me faça sentir a minha alma, e saiba chegar até ela criando seus próprios caminhos. Que aceite minhas incoerências triviais e não reclame dos meus atrasos, especialmente quando estiver indecisa sobre qual roupa combina com tal sapato. Eu espero que você saiba a relevância das suas palavras, mesmo quando for falar sem pensar, é bom que escolha o tom de voz com cuidado. Gritar nunca vai me convencer de nada. No máximo, será um bom motivo pra me fazer ir embora. E nesse caso, voltar não estará nos planos. Não tão cedo ao menos, e nunca sem um bom pedido de desculpas, daqueles bem sinceros, e que não se tornam recorrentes.

   Eu sei, falando assim, parece uma roubada. E talvez seja mesmo. Mas, eu também já fui vítima de assaltos antes. Perdi as contas de quantas vezes roubaram minhas expectativas em troca de desilusões a longo prazo. Eu tenho algum crédito com promessas não concretizadas. Não se preocupe quanto a isso. Se você for capaz de ser, minimamente eficaz em superar essa visão meio perturbada da vida que conservo, e sou obrigada a manter. Bem, pode ser que a gente tenha algumas semanas pra brincar de acreditar na eternidade, e ir levando um ao outro na manha, sem pressões e sem pressa. Apenas pelo prazer da convivência, e por uma vaga certeza, de não estarmos indo a nenhum lugar longe, não tão longe que nos faça esquecer o caminho de volta. 
   Mas entenda, é chato, e eu sei, mas até para isso, é preciso que você seja capaz de ser e de fazer alguma diferença na minha vida.




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

EMPATIA NATURAL






      Acordo e me deparo com você ao meu lado. Por um momento, eu achei que estava sonhando. Meu sono é como um desses mares agitados, cheio de ondas e inquietações. Mas é curiosamente fácil adormecer ao teu lado. Você conforta a minha insônia. É atenta e zelosa com meus hábitos, dos mais clássicos aos mais insalutares. É tão convincente a ponto de se tornar o mais agradável de todos. 
Me vicio nos seus carinhos. Sou tragado para a brisa suave do teu calor mais humano, da tua alma gentil, que me dá chão ao mesmo tempo em que me tira para dançar. 
Nós nos atamos, braços, troncos, corpos e mãos. Nos encaixamos singularmente, como ritmo e movimento, melodia e canção. Por incontáveis instantes, somos um só. Morando na solidão um do outro, na companhia indiscreta das nossas fantasias, mergulhados nos rios misteriosos que afluem da intimidade. Por um prazer que nos torna cúmplices. Uma verdade que nos faz mais fortes. 

      Procuro metáforas que expliquem a tua ausência de uma forma que não se resuma unicamente à saudade. Mas as lembranças são clichês de tudo aquilo que sentimos e não sabemos explicar. Elas denunciam uma imaginação tardia, sagaz mas insolente. Especialmente para descrever esse deserto que toma conta das nossas ruas interiores, em dias que parecem tão nublados que até a lua se esconde, tentando aparentar um orgulho de quem finge estar bem, 
      Não ter você por perto é como conviver com o silêncio de uma casa vazia. Pior, é como dar uma festa, e ter uma casa repleta de pessoas, animadas e divertidas, e de repente, do nada, se ver sozinho. Como Will Smith em "Eu sou a Lenda"; só torço para que o meu cachorro nunca desista de mim. 
      O nosso instinto de super-proteção sempre supera de longe o nosso risco calculado pela vontade de viver coisas novas. Espero que no seu caso, isso não seja um empecilho nem represente um obstáculo impossível de transpor. Você não parece o tipo de pessoa que recua diante de circunstâncias desfavoráveis, ou que usa o destino como desculpa pra justificar suas péssimas escolhas. Afinal, elas são suas. E você parece bem responsável, quando se trata de saber o que realmente quer para sua vida.

    É notável como nos damos bem, combinamos até nas nossas diferenças. Somos feitos de momentos. Alguns breves, outros relativos. Alguns simples, como sorrir com o sorriso do outro, numa forma de espelhar a felicidade por empatia natural. São gargalhadas meio bobas, e não intencionais. Você me olha como quem procura motivos, eu te retorno, como quem não precisa de nenhum.
      São segundos que ganhamos apostando em algo que nos parece fácil, mesmo visto de longe, e olhando mais de perto, nos faz imaginar qual a distância real entre as estrelas e as certezas que repousam no futuro. Nós adivinhamos quais são as nossas possibilidades juntos. Olhamos fundo nos olhos de um destino sugestivo e promissor. E enquanto isso, vamos sendo felizes para nos distrairmos, e não pensarmos muito.
      Parecemos sérios, mas no fundo estamos nos divertindo. Ficamos bobos, rindo à toa, de alguma bobagem que parecia melhor nas telas do que no livro. Guardamos nossas melhores cenas para os créditos finais que anunciam como será o próximo capítulo. Dividimos segredos, compartilhamos paisagens. Nosso palco de fundo é a confiança conquistada. Ou intuída, desde os primeiros olhares.
       É como se você já soubesse com quem estava lidando. Como se já estivesse preparada pra ver as suas melhores expectativas sendo postas em prática. 
     A paciência é afrodisíaca para paladares refinados como o nosso. E o gosto que fica, é sempre associado ao prazer de ver tudo ganhando forma. E saindo ainda melhor do que o que "não" planejamos. 


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

IMPULSOS E IMPRESSÕES







      Sei que essa é a hora em que eu deveria tentar te impressionar, falando sobre como eu sou legal e blá, blá, blá... Mas eu não sou boa nisso.
  Entenda, eu sou feita de histórias meio sem pé nem cabeça, e a minha capacidade de fazer propaganda de mim mesma é igual a de um comercial de cigarros ilustrando uma vida saudável. Não cola. Você só releva e aceita, se for mesmo aquilo que estava procurando.

    Eu até sou convincente quando se trata de criar empatia com aqueles seus amigos chatos, que ficam destilando teorias machistas em tom de brincadeira, na mesa do bar. Eu entro no clima. Me divirto. Bebo junto e dou largas risadas. Sou especialista em não me levar a sério. Mas experimente você, tentar não me levar a sério. É sério, isso me faz querer ir embora na mesma hora. E você sabe que eu vou. E não volto.

    Você sabe que eu sou feita de impulsos e impressões. Se por um momento, sentir que sou menos importante pra você do que deveria ser nesse estágio da nossa relação, não há força no mundo capaz de me segurar ao seu lado. Eu sumo, com a mesma velocidade com que você olha para o lado quando uma menina atraente passa por nós. Não vai saber nem pra que lado eu fui. E acredite, eu não sou dessas que desiste fácil. Mas quando eu firmo pé que não quero mais: Ah, daí já era, meu bem! Não adianta ligar, mandar flores, se declarar em aeroportos antes do voo, ou escalar a minha janela no meio da noite. Não tem mais volta. Eu elevo o meu muro de orgulho na altura máxima, e não tem quem o derrube ou atravesse. É assim que as coisas são por aqui. Se acostume. Se quer, ótimo. Faça por onde. Se não, então siga adiante, e vá para a próxima parada. Eu te desejo sorte e tudo de bom.

    Mas entendo que as coisas não estejam saindo como você planejou. Há uma infinidade de detalhes que nós ainda não acertamos. Sobre como vamos nos despir dos nossos cansaços diários, conciliar a nossa falta de tempo com essa crescente vontade de dividir nossas dores. Eu acredito que estando ela ali, presente, nós vamos encontrar uma forma. Vamos dar um jeito de nos comprometermos com essa troca constante de desejos, prazeres e hábitos, que funciona como um afrodisíaco natural para os nossos pensamentos, e nos faz querer mais e mais, afinar nossas cumplicidades.

    Eu mal consigo controlar a vontade de te ver de novo, confesso. Há uma necessidade urgente gritando em mim, ela não cala diante de nenhuma justificativa plausível. Acredite, eu já tentei. Mentir pra mim mesma é uma das coisas mais estúpidas que já fiz, e foi tentando te esquecer que eu fiz isso. Não deu muito certo. Percebi que você faz falta, nos momentos mais inusitados do dia, num café em meio ao trabalho, numa vaga para estacionar onde cabem dois carros, nas promoções absurdas de uma loja virtual de produtos importados. Eu deveria ir no Procon reclamar da sua demora em chegar na minha vida. Porque queria você logo aqui, ao alcance das minhas ilusões, indo de encontro às minhas esperanças. Para te ter apenas por ter, te sentir, como quem sente e não se preocupa em entender o que está sentindo. Para te observar distraído e ter essa certeza crescendo secretamente em mim, de que nós fomos feitos para suportar um ao outro. 
     E não me importar em ter ganas de uma namorada chata, fingindo ser só complicada, ou geniosa e difícil, quando no fundo só não quero assumir o quanto você mexe comigo. Nada que eu demonstre, porque meu amor-próprio não deixa. Mas é algo que você desperta em mim. Com esse seu jeito de quem não quer nada com nada, e parece ter tudo o que precisa. Você me faz sentir tão livre, que naturalmente, eu acabo desejando só pertencer a você. Ser sua e de mais ninguém. Mas você não precisa saber disso. É mais uma daquelas coisas que ficam implícitas nos gestos e atitudes que eu não demonstro. Mas vez por outra, derrapo na curva e subitamente, eles me entregam. E quando você pensar ter certeza, eu vou jurar e negar até a morte, e afirmar que você está louco, se achando a última bolacha recheada do pacote.

    Mas a verdade verdadeira é que eu adoro me sentir assim. Adoro essa harmonia entre meus sentidos e meu corpo. Adoro poder me entregar a alguém, e saber com quem estou lidando. Adoro sua maneira toda peculiar de fazer as coisas. E ter, acima de tudo, essa certeza de que depois que eu adormecer e estiver vulnerável, você não vai a lugar nenhum. Ao menos, não tão longe, que não possa te esperar com o café pronto. Adoro contemplar seus olhos de paisagens longínquas, viajar no gosto de descoberta dos seus lábios. Você deve pensar que eu estou sendo atrevida, mas é só a minha forma de te confidenciar em segredo: Isso pra mim é intimidade. E vou te contar uma coisa, por enquanto, você meio que está merecendo, está conquistando a minha admiração, e isso é difícil, porque eu sou exigente com seres da sua espécie. Estou percebendo em você, algo raro. Ainda não tive tempo de testar para ver se é de verdade. Se depois da meia-noite a carruagem não vai virar abóbora. Mas até então, você está me fazendo rever meus conceitos sobre a coexistência pacífica de seres do sexo oposto.

    Nunca achei que isso fosse possível. Mas conviver com você, pra minha considerável surpresa, parece fácil. Se for um engano, ou um plano seu para me deixar totalmente na sua: Bem, odeio admitir, mas está funcionando. E você está sendo tão convincente que até me sinto tola quando questiono suas afirmações desencontradas. Na verdade, elas fazem bastante sentido, e não há nada errado com elas. Sou eu que sou assim, contraditória, e suspeito de tudo que seja bom demais para parecer verdade. No fundo, eu acho que sou só mais uma garota como tantas por aí, tentando provar pra si mesma, que existe alguém digno da sua confiança, que o amor não é só uma promessa ilusória, e que por mais que você desconfie, ainda é sempre melhor fechar os olhos quando for beijar alguém.



sexta-feira, 10 de outubro de 2014

DESCULPE, MAS NÃO POSSO SER A SUA GAROTA...







           Desculpe, mas não posso ser a sua garota. É o tipo de coisa que eu gostaria que você soubesse antes mesmo de tentar. Não vai rolar. Eu simplesmente não consigo ser o que você quer que eu seja. Não me adapto a expectativas. Quando alguém espera demais de mim, eu faço o oposto. É uma defesa, sei lá. Me torno hesitante, complicada e contraditória. Você acha que eu estou "me fazendo", e talvez esteja mesmo, mas não é pra me valorizar, como você pensa. Eu só quero sentir que estou no controle da minha própria vida, e saber, talvez, até onde você iria por mim. Se você desiste fácil, você não me merece. É simples assim. Eu fujo ao menor sinal de interesse da sua parte, e não é pra você tentar entender, é pra correr atrás mesmo. Se quiser, que me alcance. Mas eu sei que você não iria longe. Porque é limitado pelo seu orgulho. Nós já estivemos lá antes. Sabemos onde isso vai dar. Ou não, nesse caso.

            Não me leve a mal, é que eu sou toda errada. Eu sou uma dessas garotas que sempre pecam por exigirem demais, que abusam da sua boa vontade até quase se tornarem chatas. E que até podem ser consideradas esnobes e más, mas não é nada pessoal. Entenda, eu carrego o peso das minhas escolhas, as erradas inclusive, e o preço que paguei por elas, foi caro. Por pouco, eu sequer conseguiria estar aqui.
Deixe de drama, você pensaria. Mas é verdade. Fiquei com traumas. Eu olho casais apaixonados e fico adivinhando mentalmente quanto tempo eles ainda têm. Você vai achar que eu sou louca, eu sei. Você não sabe o que é viver se equilibrando numa linha tênue de emoções. Um passo em falso e, eu caio. De uma altura que me faria ter que recomeçar tudo de novo. E essa é a maior distância que há: A que separa a desilusão de uma nova esperança. E eu já percorri muitas vezes esses caminhos, já conheço essas estradas, seus atalhos e desvios. Cada promessa conjugada no pretérito mais-que-perfeito, e quebrada no futuro do presente. Lembranças que ficaram para trás porque era o único jeito. São só detalhes que se perdem no tempo, mas às vezes são eles que fazem toda a diferença.

            Você é um cara legal, me parece ao menos. Está aí todo cheio de boas intenções. Tenho certeza que seria melhor do que os outros. Se te desse uma chance, você me provaria isso. Mas acontece que eu não sou mais essa garota. Eu não vou mais onde meu coração manda. Não atendo aos apelos da minha imaginação, e nem deixo a correnteza guiar meus sentidos. Eu lido melhor com lobos do que com príncipes. Tenho mais experiência com eles. Conhecimento de causa. São mais perigosos e menos sinceros. Parecem mais comigo nos dias de hoje. Mas você não entenderia. A sua mente é muito simplista. Ou vai, ou desce. A minha é insuportavelmente complexa, de quem confia desconfiando. Ou vai, ou espera. E se vai, precisa saber pra onde, e quando, e como. E quais as chances de acontecer de novo, e de ser melhor do que a primeira vez, e do que a segunda... E depois, como a gente vai ficar, se tudo for ficando forte e intenso demais, pra continuarmos fingindo, e ignorando o futuro? Como se ele não estivesse lá, me perguntando sobre os meus planos: - Quando vou casar? Quando virão os filhos? Onde ficaram os sonhos que costumavam nos fazer deitar, e adormecer por noites inteiras?

            Existe uma insegurança em mim que me esgota. Sozinha, eu dou conta. Invento desculpas. Me convenço de alguma forma que tudo está melhor assim. Sou feliz do meu jeito torto. Não sou boa em muitas coisas. Mas suficiente para o que eu preciso. E eu me encontro nessas horas. Sigo à toa, e não exijo respostas prontas pra minhas perguntas inoportunas. Elas não importam tanto a ponto de me deixarem incômoda com tudo que ainda me permito sentir e viver.

            Mas com você, eu me perco, não tenho controle nenhum sobre elas. Elas me desafiam, e ficam implicando com as minhas manias, distraindo a minha razão. E eu odeio emoções, odeio ficar sensível a ponto de não conseguir disfarçar. E quando você me toca, eu sinto se esvaírem minhas forças, e vou me rendendo aos poucos, até me desintegrar completamente nas suas mãos. Você me tem então onde queria. E eu nunca sei por quanto tempo isso vai durar. E isso me mata. Por um momento, até me excita, mas depois me faz querer explodir de raiva. Por não ser capaz de entender o que sinto. Por me fazer abrir mão do meu orgulho e das minhas convicções em nome do que você acha que sente. Pra mim, isso é pouco. Não é nada comparado ao que eu poderia esperar de você. 

            E é por essas, e tantas outras coisas, que eu não sirvo para ser a sua garota. Simplesmente não tenho as qualidades que você procura. Eu não saberia lidar com as suas fugas inesperadas, nem com a sua busca diária pela garota perfeita. Ela é à prova de falhas. Eu sou um poço de defeitos. Ela é um ideal imaginário. Eu sou tão real que você não entende. E teima em me fazer duvidar que eu realmente valha à pena. Mas não espere que eu me esforce pra fazer você entender o que está perdendo. Aprenda a ler nas entrelinhas. Já estava escrito no rótulo: "Tenha cuidado, não se aproxime!"
            Se você não for capaz de ler nos meus olhos, interprete as minhas ações. Eu não sou facilmente tratável. Não nasci pra satisfazer as suas vontades. Sinto muito, mas não posso ser a sua garota.




quinta-feira, 9 de outubro de 2014

IDIOTAS NÃO SE IMPORTAM






   Hoje em dia a desculpa que os babacas mais usam pra agir como babacas é: "Porque é disso que as mulheres gostam..." Eu acredito que existam algumas que realmente gostem. E na maioria das vezes, acho até que elas não tem sequer culpa disso. Muitas vezes, é só o que elas tiveram a oportunidade de conhecer na vida. Ou tiveram uma base familiar fraca, ou só carecem de uma melhor auto-estima. O motivo não importa. O que importa é como você vai reagir e lidar com isso.

   Ser idiota é uma escolha natural, e até meio óbvia. Você se protege, age como se aquilo não te afetasse. Dá o troco quando pode, responde na mesma moeda. Você mostra pra ela o quanto você é mal, e cruel, e indiferente. Ela vai odiar você, e você vai mostrar que não se importa com o que ela pensa. Aliás, esse é o mantra dos idiotas. Eles nunca se importam com o que os outros pensam deles. Porque eles são tão maus, tão à prova de sentimentos. Quem poderia adivinhar que isso é só fingimento. Não você. Porque você está obcecada demais tentando provar que ele ainda tem conserto. Você é a ingenuidade que sustenta a imagem que ele faz de si mesmo. E todo esse orgulho que ele sente de ter você correndo atrás, é só uma forma de confirmar seu comportamento. 

   No fundo, ele não passa de uma garotinha assustada e sensível, querendo que você não o trate com desprezo. Porque ele tem medo do que isso possa fazer com a sua auto-estima. Bem, é um medo que se justifica. Talvez você goste de fazer alguns caras sofrerem porque isso te dá prazer, ou porque você se sente mais viva. Faz bem pro seu ego, ignorar alguém, se fazer de "difícil". 
   É uma espécie de atestado de conduta social dos tempos modernos: você só é normal e descolado, se for capaz de ser cruel, quando for preciso. Se tiver a capacidade de fazer alguém se sentir ridículo. Não é que você seja mal, não, você só não serve pra ser bonzinho. Porque bonzinhos são otários. E otários são solitários, e no final, nunca ganham a garota, certo? Elas gostam dos maus. Elas querem que você seja difícil, que represente um desafio. E você prefere ser esse babaca, porque o babaca é sempre um incompreendido. Fica mais fácil chamar a atenção. Revelar, ou não, suas intenções. Mostrar a que veio. Tudo justifica suas ações, porque ele não está lá pra ser legal. Ele sabe que caras legais vão para casa sozinhos. E ele tem medo do fracasso, e de como se sentir rejeitado pode botar tudo a perder. Todo o trabalho pra montar essa farsa. Botar essa máscara do cara mau e insensível. Todas as garotas que ele conhece falam disso. E elas adoram um cafajeste. E ele adora parecer que faz bem o tipo delas. No fundo, ele só quer que você pense que não pode controlá-lo, quando já está de quatro fazendo tudo pra que você olhe pra ele. Enquanto isso, você finge que se importa, até perceber que ele está na sua, daí perde a graça, porque você é tão madura, e ele é tão cheio de personalidade. Vocês juntos dariam um casal fantástico. Não durariam um mês, e terminariam no primeiro bocejo. Ela, alegando que ele é chato, e ele afirmando que ela não gosta de sexo. A verdade é que você é ruim de cama, e ela só quer alguém que confirme a sua existência.

   Mas tudo bem, você ainda se pergunta qual a vantagem de ser um cara bacana? Mesmo já tendo ouvido inúmeras vezes uma mulher se perguntando: "Por que é que eu não encontro um cara decente?" "Por que nenhum homem presta, e são todos mais do mesmo?"
  O problema não é que os homens sejam todos iguais. O problema é você que sempre escolhe os piores, e continua se convencendo de que eles fazem o seu tipo... O problema é a forma como você vê o mundo e se relaciona com os seus desejos. O problema é você mentir pra si mesma todos os dias, e depois lamentar que outros façam o mesmo. O problema é querer fazer tudo igual a todo mundo, e depois ficar a vida toda torcendo para que aconteça algo diferente.
   É uma defesa, alguém pensa. São critérios, você afirma. Pessoalmente, eu acho que é tolice. Falta de amor próprio. Maturidade emocional. Equilíbrio... É como um vício: Jogar joguinhos de cinismo e conquista. Usar a fama pra deitar na cama. Coisa de pessoas inseguras, e muito mal-resolvidas. Que não sabem o que querem da vida, e quando encontram, não valorizam. Porque estão envolvidas demais com seus próprios problemas tentando ter dos outros, aquilo que sentem falta, nelas mesmas.