terça-feira, 18 de novembro de 2014

MODERNIDADES IMPOSTAS






     Relacionamento com perspectivas de futuro é coisa pra duas pessoas maduras, decididas, que sabem o que querem da vida, e isso inclui um ao outro. Relações assim têm grandes chances de darem certo.
    Agora, aquele outro tipo de relacionamento que anda tão na moda hoje em dia, onde as pessoas ainda querem manter a mentalidade de solteiros, e fingem que a outra pessoa não é importante, e que é facilmente descartável, enquanto fazem joguinhos para se valorizarem, testando para ver quem tem o poder, ou quem manda mais em quem. Cá entre nós, isso não é sério. Tampouco é divertido. No fundo, isso não passa de uma brincadeira infantil e despretensiosa.

    Geralmente, são como duas crianças mimadas brigando pelo mesmo brinquedo, e quando um conseguir, vai deixar ele jogado em um canto, porque já não tem mais graça. É a ilusão do desafio, dizem alguns sábios do comportamento humano.
    Pessoalmente, eu não me adapto a nenhuma dessas baboseiras que a modernidade quer nos impor ou empurrar goela abaixo. Acho que sou chato e retrógrado ao extremo, porque não sinto nenhum interesse por esse tipo de envolvimento. Nem entendo qual o estímulo que as pessoas sentem em serem destratadas, enroladas ou feitas de bobas. Ah, mas tem que ter um charme! Que charme há em não ter certeza nenhuma de nada? Viver entre dúvidas, tendo que imaginar ou adivinhar o paradeiro ou o real interesse do outro, com quem você se juntou para poder contar e saber que tem alguém para ficar ao seu lado, sempre que precisar. Me desculpe, mas charme tem a ver com presença, com um jeito espontâneo de sorrir, de olhar nos olhos enquanto falam, e se descobrem, fazendo perguntas, interpretando respostas, compartilhando silêncios. Charme é mostrar a que veio, e não se esconder para parecer melhor do que é.

    Ah, mas daí tem a parte boa! Que parte boa? A parte em que você não está em dúvida, insegura(o), desconfiada(o), sem saber onde o outro anda porque ele, ou ela, decidiu que especialmente hoje vai te atender na primeira chamada, ou vai responder sua mensagem sem esperar duas horas pra você não pensar que ele estava a postos para você? Enquanto você agradece aos céus porque pôde contar com aquela rica pessoa nesse dia. E nos outros? Só Deus sabe. Vai depender da disposição, do tempo, do alinhamento das estrelas, da sua conjuntura astral...
    Em que mundo, isso é algo minimamente excitante, ou atraente? Porque pra mim, é apenas previsível e maçante. Será que precisa de tudo isso para tornar uma relação emocionante ou sentir um interesse genuíno pela outra pessoa?
    Mistério é bom no começo, para nos prender ao enredo e permitir nos surpreendermos com o rumo das coisas. Depois disso, fica supérfluo, desinteressante, como um roteiro sem pé nem cabeça, onde as cenas são soltas e não fazem nenhum sentido. A gente torce para que chegue logo o final porque não aguenta mais assistir uma história que se arrasta e cujo desfecho só revela mais e mais incoerências e uma tremenda falta de criatividade.

    A única cumplicidade que imagino nesses casais é na hora da briga, quando um decide não falar mais com o outro por alguma besteira dita sem pensar. Então, ambos vão, cada um para o seu lado, cheios de orgulho e medo, torcendo para que o outro dê o braço a torcer primeiro. Porque se depender de assumir erros ou pedir desculpas, adeus, já era, não rola mais...

    Eu leio nas entrelinhas desses relacionamentos uma tremenda falta de amor próprio. E é fracasso na certa. Decepções a curto prazo. Em pouco tempo, serão dois tristes amargurados postando indiretas e desejando que o outro se exploda porque não aguentou as suas birras. E assim vão seguir, desviando das desilusões, tropeçando na própria vaidade, sem aprender coisa alguma nem refletir sobre nada, até encontrar outra criança disposta a brincar de casinha, e mudar o status do Facebook pelas próximas duas ou três semanas.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

UM ATÉ LOGO, NÃO UM ADEUS...







      Lá se vão nossas ilusões mais uma vez desfeitas na pressa de arrumar a cama, tentando improvisar alguma frase que soasse como um até logo, e não um adeus. Todas as chances depositadas numa noite sem maiores expectativas, elas não nos fariam arriscar mais do que uma saída despretensiosa, na companhia oportuna de algumas velhas caras conhecidas. Nada que estivesse no meu quadro imaginário de um encontro perfeito. Mas você estava lá, e você tinha a seu favor, a minha carência momentânea de um olhar mais profundo. E você me viu, e mais que isso, me enxergou, ainda de longe. Mirou meu ponto fraco, e foi direto na direção das minhas dúvidas. Parecia que você sabia de cor todo o meu roteiro confuso, e que havia improvisado as falas, segundos antes de subir ao palco. Tudo muito bem ensaiado. Mas sem perder a espontaneidade diante de qualquer necessidade de lidar com imprevistos.

De repente, pareceu que nós tínhamos alguma coisa em comum, fora a sensação de já havermos nos visto antes. Em outra vida, talvez. Acho que nós já sabíamos onde tudo isso ia dar. Tive esse estranho pressentimento de que você ainda iria regar minhas plantas, brincar com meu cachorro, sorrir, compartilhando comigo, alguma observação trivial, que nos fizesse chegar a uma mesma conclusão sozinhos, e dividir o pensamento em duas partes: a minha e a sua. Dois pontos de vista: O antes e o agora. E nós nos complementaríamos fácil, sem nunca deixar de ser inteiros. Porque é assim que relacionamentos promissores começam.

            Combinamos nossas desculpas, e até improvisamos nosso álibi para quando faltasse o assunto. Logo os beijos substituíram os silêncios constrangedores; E quando nada mais restava a se fazer: embarcar ou acenar, vendo o barco partir. Nós embarcamos. De olhos fechados e impulsos sob controle. Foram os passeios mais demorados e agradáveis da primavera com cara de verão. E renderam talvez, um passatempo divertido, para ocupar nossas mentes pelas próximas semanas, ou estações. Por enquanto é o que podemos afirmar do que estamos vivendo.

            Não vamos brincar de prever o futuro. É uma diversão perigosa. Pode tirar toda a emoção do momento. Eu sei que você gosta de certezas. E sei que eu as ofereço quase que de forma inconsciente. Porque te vejo muito além do que os outros veem. E te abraço como quem abraça um sentimento, mais do que dois corpos que se completam. E nós sabemos até onde vão os nossos medos, e lidamos com eles de forma corajosa e atrevida.
Você é simples. Isso te torna especial aos olhos de muita gente. É difícil ser simples hoje em dia. Muita gente complica em busca de aceitação, como se precisasse provar algo para o mundo, e se importasse demais com que as pessoas pensam. Você é meio desligada dessas coisas. Isso é essencial para o seu temperamento. Como se parte do seu charme e do seu brilho estivesse em não se preocupar com o que não lhe diz respeito. Isso é raro. Admiro isso em você. Espero sempre pelo seu sorriso para confirmar que o dia vale realmente à pena. Mesmo longe, nós ainda somos vizinhos de pensamentos. E eu gosto de pensar em você, como quem precisa se focar em alguém que justifique o que sente. Isso nos dá segurança. É uma sensação que não pode ser desperdiçada em troca de aventuras de uma só noite.

            Por isso, quando te olho indo embora, sempre reflito sobre os nossos encontros, e me pego torcendo para que eles voltem a acontecer. De preferência, que não demorem tanto. Que a distância não nos force a ser estranhos pelo tempo sem notícias. E que a solidão seja uma ponte que nós possamos atravessar juntos, sem que você largue a minha mão. Que o nosso último olhar trocado, antes que alguma porta bata ou que alguma viagem nos leve para longe, seja um olhar de promessa. De recomeço. Um até logo, não um adeus...




sábado, 8 de novembro de 2014

ATÉ AQUI, TUDO CERTO...






   
O teu amor é a paz que acalenta o meu sono. É a inspiração que me faz adormecer e acordar todos os dias, imaginando todas as possibilidades que estão lá fora, nos esperando. Sorrindo, como um convite para todas as viagens e circunstâncias do acaso, que irão esbarrar conosco numa próxima esquina. Elas estarão disfarçadas de coincidências, mas nós saberemos reconhecê-las pela sua verdadeira face. Nós entenderemos que não se trata de convencer ninguém de nada, mas sim, de reconhecer o nosso próprio destino. 

            Toda a calma do mundo se reflete agora em teus olhos. Quando por um momento, tudo parece mais difícil e complicado, e todas as nossas forças se esgotam na tentativa de superar nossos limites. Eu me refugio na tua serenidade, para entender que o pouso da minha alma só encontra conforto quando me aninho e sou envolto pelo alívio instantâneo dos teus braços.
E adormeço em teu colo, trocando momentaneamente de lugar com você. Que agora é meu porto seguro e o lugar para onde sempre desejo voltar. É a sua vez de me cuidar e me fazer sentir que nada nesse mundo poderá ficar entre a gente.

             Eu passei muito tempo, me convencendo de que tudo acontece quando tem que acontecer, que não se pode desperdiçar a paciência, negociando o próprio equilíbrio em troca de afirmação. Há um universo de coisas que não valem a nossa angústia. A única coisa que me inquieta agora nesse mundo são os segundos que se recusam a passar, quando estamos já tão próximos de realinhar nossas existências. Em um mundo de pessoas rasas, encontrar um significado profundo parece um desafio maior do que provar que podemos dar certo. 

            Tudo se resume a uma palavra: confiança. É ela que nos leva adiante, que determina a medida do nosso alcance, e o quanto as nossas afinidades vão relevar as nossas diferenças.  
            É uma busca incessante pela eternidade. Atravessar labirintos de caminhos duvidosos, percorrer rotinas de dias lastimáveis. Ver sentido nas coisas mais simples, é um segredo que poucos reconhecem e sabem usar a seu favor.
            É como se estivéssemos ligados por uma linha invisível que nos aproxima de quem está enfrentando as mesmas batalhas que nós. E existe alguma coisa que nos faz acreditar que iremos prevalecer, que permaneceremos juntos pelo tempo que for necessário. Pelo infinito que parece durar mais do que uma estação contingente e mais longa do que o normal. E não há nada que nos faça hesitar, quando sabemos para onde desejamos ir. 
            Impossível prever onde termina essa estrada. Não há horizonte indicando a chegada, nem qual a parada mais próxima para abastecermos e descansarmos nossos olhos. Vamos então renovando as nossas energias, brindando às nossas incoerências. Escutando o som de alguma frequência desconhecida, que sintonizamos a alguns minutos no rádio, e brincando de adivinhar o futuro.

Qual será o nosso próximo destino, de acordo com a próxima música: Se for uma balada romântica, iremos para o Norte, se for um clássico do Rock, iremos para o Sul. A expectativa do nosso futuro é simples, e se resume a manter nossas escolhas simples, e sob o controle das nossas intenções.

            Enquanto dividimos nossos sonhos, e sorrimos para estranhos na rua, bebemos nossa solidão em um gole, e abraçamos as ilusões sem culpa.
Entre um beijo e outro, nossos desejos não nos consomem, ainda assim seguem mais fortes do que nós. Isso nos mantêm unidos- mas não é o que nos faz mais fortes.
 Há um silêncio do qual somos cúmplices. Como um momento onde não cabem palavras. Nossos olhares se encontram por um segundo, e até as nossas contradições parecem ganhar algum significado. Todos os medos desaparecem como que, por mágica, e tudo o que vivemos até o presente, não é nada, perto do que ainda nos espera.

            Escolhemos assim a sorte da nossa próxima parada. O futuro é um lugar que ainda não conhecemos. Mas sabemos que o destino é estarmos juntos, isso é tudo que importa nesse momento. No rádio inicia uma canção conhecida. Sabemos agora para onde estamos indo. E sabemos, acima de tudo, que não importa qual for a música, nós sempre estaremos em sintonia com os motivos que nos fizeram chegar até aqui.









sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O CAFAJESTE QUE VOCÊ TANTO AMA...






    Caras como eu só servem pra lembrar garotas como você, que estariam bem melhor sozinhas. Toda a amargura e frustração que resultar desses encontros vazios e intensos que nós teremos, só vão te levar a uma visão mais solitária da vida. Mas você insiste, porque se sente incapaz de recusar algo assim. Simplesmente, foge do seu controle. E tentar entender, não te faria querer menos. 

    Você me olha, e sabe o quanto isso provoca em você sentimentos distintos. Você não pode saber por onde eu ando- isso te deixa curiosa. Mas você finge que não se importa, contanto que, quando estivermos juntos, eu te faça sentir tudo aquilo de novo. Você não liga, se eu não te ligar; Você vai criar alguma desculpa plausível pra justificar a minha falta de notícias. E vai brigar com suas amigas que afirmarem que eu não presto; Você vai bancar a louca, e até vai perder a pose, sempre que eu voltar, prometendo que mudei. Mesmo que no fundo, você saiba, que isso só vai durar até eu sumir novamente. Eu vou te deixar, quando você mais precisar, e sem dar maiores explicações. Por um tempo que você nunca sabe o quanto vai durar.
    Você não tem controle sobre nada que diz respeito a mim. E você sabe disso.
    Isso mexe com a sua imaginação de muitas formas- te faz entrar em paranoia- e quebrar a cabeça tentando achar respostas, que nunca bastam para justificar para si mesma, as razões que te faltam para sequer entender, o que só sabe sentir.

   Todos estão a seus pés, mas para mim, você parece ser apenas mais uma. E isso te inquieta, ao mesmo tempo em que te deixa louca. Você vive intrigada, tentando aceitar o que não compreende. Me vê como alguém complicado e que precisa de ajuda, da sua ajuda, claro. Porque você tem a cura para o meu mal. Já criou mil teorias para explicar porque eu sou desse jeito, tão à prova de sentimentos e tão arisco a relacionamentos, que sejam mais sérios do que divertidos. No fundo, você me acha difícil, e me julga um desafio. Isso desperta o seu instinto mais básico de querer competir, e não se importar em fazer papel de trouxa, e querer sempre mais daquilo que não pode ter.

   Mal sabe você que eu sou fácil, e nada confiável. E todas as suas amigas que insistiram em provar, acabaram descobrindo que eu não tenho nada demais. Eu não sou especial como você quer acreditar, nem melhoro com o tempo como seu amor poderia supor. Não há como me salvar, nem me proteger do mundo. Eu vou te deixar quando você adormecer, e não vou te ligar no dia seguinte. E não quero e nem me importo que você pense mal de mim, na verdade isso não faz a menor diferença. Você se pergunta como alguém tão idiota e egoísta, pode ser tão generoso e dedicado na hora do prazer, mas isso é só pra enaltecer o meu ego. Eu não faço amor com você. Eu transo com minhas próprias expectativas. E eu não entendo você como você pensa, isso é só fingimento. Dizer o que você quer ouvir é um truque velho e barato. Eu, tampouco sou sincero. Todas as minhas verdades são inventadas, e funcionam bem, não porque eu seja assim tão convincente, mas porque você é ingênua. E só quer acreditar naquilo que precisa para justificar pra si mesma o que sente por mim.
   Você odeia se sentir assim: encantada. Mas entenda, a culpa não é toda sua. É que caras como eu, estão mais que acostumados, a usar certas máscaras, e fingem ser o que não são tão bem, que até se esquecem de quem são de verdade.

   E você precisa passar por esse tipo de caras, para entender que você merece mais, muito mais que isso. Precisa aprender a valorizar as qualidades de alguém que se interessa em ver você com outros olhos, com outras intenções. Você já deveria estar cansada de tantos babacas fingindo ser legais só pra te impressionar. Deveria observar e sacar, até de longe, o quanto vale o caráter, e não a roupa nem o carro. Procurar conhecer a família, e não qual o círculo social. Você deveria saber que todo homem é um cafajeste em potencial, mas que alguns poucos ainda escolhem ser cavalheiros, e se importam com os seus sentimentos, mesmo que não venham a ganhar nada com isso, e são educados, e tem por hábito, serem gentis. E é para esses que você deveria estar olhando agora.
   O cafajeste que você tanto ama não representa nada, perto do homem que você ainda vai amar um dia, quando perceber que o amor e a felicidade verdadeiros só chegam, para as pessoas maduras e bem-resolvidas.



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A RAZÃO DO MEU SUMIÇO






             Por que você sumiu?- ela pergunta, depois de algumas estações desencontradas. Ele hesita em responder. É estranho não sentir mais vontade de justificar suas ações para ela. É como se agora houvesse a liberdade de serem estranhos, e não deverem mais nada um para o outro. 
            Ele pensa em muitas razões para completar suas reticências. Mas não se sente obrigado por nenhuma delas. Talvez por educação, ou pela ausência de qualquer rancor, apenas deixa escapar algumas breves palavras. Nenhuma delas tem o poder de amenizar aquela súbita curiosidade que surge do nada, e se mostra surpreendentemente interessada. Nenhuma delas seria capaz de transpor aquele espaço insondável de distância que restava agora entre ambos. Como se depois de qualquer final, só restassem mesmo os abismos e as lembranças- outrora agradáveis- e no minuto seguinte, apenas, constrangedoras.
            E ela ainda perguntava por que o sumiço, como se aquele tanto de presença já não fosse o bastante para explicar qualquer desaparecimento súbito. Era perfeitamente compreensível.

            Seria mentira dizer que não sumi. Que estive sempre ali, no mesmo lugar. Que ela sabia onde era o meu endereço, e sabia muito bem onde me achar. Mas acontece que eu não queria mais ser achado. Então, por acaso, eu me mudara. Fui morar longe dali. E sumi, sem deixar vestígios de mim em nenhum lugar pela casa. Sem pistas de que estive ali, e nem restos de memórias que denunciassem por onde eu havia estado.

            Sim. Sumi. Sumi, como somem as roupas quando saem de moda. Como somem as canções quando já não fazem mais sucesso e deixam de ser tocadas. Sumi porque precisava de reciclagem. Respirar sem sentir o ar rarefeito. O clima pesado das contradições aparentes. As ideias embaçadas pela culpa no retrovisor.
            Sumi porque precisava, acima de tudo, perdoar a mim mesmo. Fazer as pazes com os meus próprios dilemas. Voltar a me ver como alguém capaz, que valesse à pena, investir e perder algum tempo. E que, pudesse sentir novamente alguma coisa real, verdadeira. Que estivesse pronto para o que viesse. Sem ressalvas nem recaídas de última hora.
            Sumi porque não aguentei a barra de ver você seguindo em frente. Porque não consegui me esconder em outros desejos. Porque não achei justo brindar à esperança em copos de plástico, nem curar a ressaca das noites insones, frequentando outras solidões.
 Então, sumi. Porque haviam coisas que precisavam ser feitas. E elas exigiam de mim, alguma dedicação silenciosa. Sumi, porque os nossos lugares em comum estavam ficando manjados. Pareciam haver nossas digitais em cada canto. O beijo dado na hora imprópria. O primeiro olhar sequestrando o interesse, e fazendo-o refém por longos períodos de intenções não-declaradas. Sumi porque nunca fui bom em decifrar os enigmas da saudade. Como se as peças que faltavam não encaixassem. Por não saber lidar com os labirintos sem saída da memória. Ter que lembrar de te esquecer era demais pra mim. 
    Tudo isso, acontecendo ao redor, e as emoções nos indagando sobre a possibilidade da volta. Eu não dei conta. Sumi pra não enlouquecer.
Tão rápido quanto o sol se esconde no mar, nos olhos poentes do horizonte anunciado. Fugi na direção contrária, para o bem de todos que esperavam alguma coisa de mim. Já não tinha nada a oferecer, exceto a minha própria confusão. E isso não bastava.
A melhor coisa que poderia fazer era sumir para sempre do seu mundo, e recomeçar novamente em algum outro universo ou galáxia, onde ninguém soubesse quem eu era, quem nós fomos, e o quanto deixamos para trás, sem pensar duas vezes.

            Porque é assim que os loucos abrem mão da felicidade: Jogam fora os seus planos de uma vida toda em troca de uma chance de provarem que estão certos. Como tolos teimosos- incapazes de reconhecer seus erros- se apegam a conceitos superficiais de como as coisas deveriam ser. E essa competição contra os seus próprios ideais imaginários é o maior atestado de fracasso que alguém pode assumir. É o fim de todo o argumento aceitável que poderia desfazer qualquer breve mal entendido. E tudo vira uma disputa, alguma triste briga sem motivos, uma eterna batalha de egos, entre vidas vazias e em busca de sentido, tentando provar para o orgulho, quem é melhor que quem. 
            E por não suportar mais isso, eu sumi. Desisti de tudo o que não fazia mais sentido pra mim, e decidi sair de cena, sem maiores cartazes nem uma última dose. Apenas eu, seguindo adiante. E uma estrada longa e infinita me convidando, me chamando para a dança. Como eu poderia recusar? Era a minha chance de deixar tudo para trás. Era melhor assim.
            E hoje, ao me encontrar comigo, levo essa certeza- que se afirma mais a cada dia- sumir, foi a melhor coisa que eu fiz.



domingo, 2 de novembro de 2014

A DIFERENÇA





    Te peço uma coisa: Venha para fazer a diferença. Não seja mais um babaca pretensioso na minha vida. Acredite, eu já tive a minha cota de fracassos e não estou interessada em repetir velhas e amargas experiências. Uma das minhas melhores qualidades é que eu aprendo rápido. Não preciso ficar passando por tudo mil vezes para entender que não é pra mim. Que não vou ser feliz desse jeito, e que há um limite para o quanto se pode esperar de alguém.

   Então, crie esse selo de aprovação na sua marca. Seja um produto que se vende sozinho, pela eficácia e originalidade. E não um com defeitos, do tipo que você vai no Procon reclamar e acaba ouvindo como resposta que não se pode fazer nada. Que é assim mesmo...
    Seja gentil, seja cavalheiro, e me trate como a mulher especial e única que eu adoraria sentir que sou, mas nem sempre consigo. Hormônios, paranoias, inseguranças... Você não entenderia. E nem tem que fingir que entende. Você não precisa fingir coisa alguma. Quer saber como ser autêntico? Seja você mesmo. Esqueça o que acha que aprendeu com seus amigos que se julgam experientes porque já "pegaram" três na mesma noite, ou seus relacionamentos super maduros que se resumiam a quem manda mais em quem.

    Tire essa capa do herói que vem pra resgatar a mocinha. Isso é só uma forma pseudo-machista de ter o controle de tudo. Comigo, você não vai precisar disso. Já conheci muitos caras assim, e eles nunca foram capazes de me oferecer verdadeira companhia. Eu não era mais uma donzela em perigo clamando por ajuda. Era uma garota se sentindo solitária e carente, e estava morrendo de tédio ao lado de alguém com quem sabia que não poderia contar quando mais precisasse.
    Você não sabe o poder que tem um gesto de consideração. Experimente se importar, isso muda todo um conceito formado por anos de ligações nunca retornadas no dia seguinte.

    Entenda, eu preciso confiar em você antes de me entregar completamente. Isso leva tempo. Sei que você gosta de chegar logo aonde quer, mas nesse caso, nós somos muito diferentes. Eu preciso ser estudada- como uma ciência que não é exata- e descoberta, com calma. Há lugares em mim que nunca foram tocados. Que nem mesmo eu faço ideia que existam. Seria bom saber que você vai dedicar algum tempo pra me mostrar coisas sobre mim que ainda são um completo mistério. É o tipo de coisa que me faria olhar pra você com outros olhos. Não aquele brilho romântico dos que fazem mil viagens sem sair do lugar, mas uma admiração mais profunda, de quem gosta de ser surpreendida, e não costuma experimentar essa sensação muitas vezes.

    Agradeço se você for capaz de me compreender, de relevar meus desatinos esporádicos e enxergar que, por trás desse ar de mulher bem-resolvida, existe uma garota hesitante, que não acredita em astrologia, mas sempre dá uma espiada no seu signo, que tenta interpretar o sentido oculto dos sonhos, e associá-los com a realidade do que está vivendo. Que acredita em sua própria intuição, quando conhece outra pessoa, e em fazer sua própria sorte, quando quer alguma coisa. Alguém que não dúvida do que não conhece, mas desconfia do que parece muito fácil. E que precisa de uma mão pra segurar em dias de tempestades, quando o silêncio dos seus pensamentos é tão alto que até abafa o estrondo dos trovões lá fora.

   Seja paciente. Seja sincero quando achar que algo não estiver certo. Deixe eu decidir se gosto de você, descobrindo como é realmente. Eu não quero mais um produto criado para impressionar com academias e diplomas. Quero alguém que me faça sentir a minha alma, e saiba chegar até ela criando seus próprios caminhos. Que aceite minhas incoerências triviais e não reclame dos meus atrasos, especialmente quando estiver indecisa sobre qual roupa combina com tal sapato. Eu espero que você saiba a relevância das suas palavras, mesmo quando for falar sem pensar, é bom que escolha o tom de voz com cuidado. Gritar nunca vai me convencer de nada. No máximo, será um bom motivo pra me fazer ir embora. E nesse caso, voltar não estará nos planos. Não tão cedo ao menos, e nunca sem um bom pedido de desculpas, daqueles bem sinceros, e que não se tornam recorrentes.

   Eu sei, falando assim, parece uma roubada. E talvez seja mesmo. Mas, eu também já fui vítima de assaltos antes. Perdi as contas de quantas vezes roubaram minhas expectativas em troca de desilusões a longo prazo. Eu tenho algum crédito com promessas não concretizadas. Não se preocupe quanto a isso. Se você for capaz de ser, minimamente eficaz em superar essa visão meio perturbada da vida que conservo, e sou obrigada a manter. Bem, pode ser que a gente tenha algumas semanas pra brincar de acreditar na eternidade, e ir levando um ao outro na manha, sem pressões e sem pressa. Apenas pelo prazer da convivência, e por uma vaga certeza, de não estarmos indo a nenhum lugar longe, não tão longe que nos faça esquecer o caminho de volta. 
   Mas entenda, é chato, e eu sei, mas até para isso, é preciso que você seja capaz de ser e de fazer alguma diferença na minha vida.