quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

ENTRE METÁFORAS E LENÇÓIS






          Olho além desse momento, imagino a gente longe. Perdidos na nossa própria confusão aparente. Você diz que sabe pra onde devemos ir agora. Te olho como quem duvida que a sua sugestão será assim tão tentadora. Não diante do aconchego em que nos encontramos nesse momento, compartilhando visões do futuro na janela entreaberta das nossas almas obscenas. Vejo um filme passando em minha mente, enquanto você foge para baixo das cobertas. Reclama o ar gelado, e a minha frieza súbita. Você se torna a pessoa mais romântica do mundo pra resgatar a minha fé nesses momentos a dois. Como um cego tateando no escuro, me guio pela sua luz. Acredito nas possibilidades, quando você as insinua com um sorriso malicioso. Minhas dúvidas se dissipam como as nuvens quando absorvem os primeiros raios de sol. Nós amanhecemos insones, e abandonados à nossa própria sorte. No universo paralelo de uma cama bagunçada, onde dois corpos se acomodam como se ocupassem o mesmo espaço. se encaixando sutilmente como o prazer e o desejo, indo mais fundo a cada momento, até alcançar o ponto extremo.

            Você desperta dos meus sonhos quando me obriga a abrir os olhos. De repente, nos vemos imóveis diante do tempo e das circunstâncias que teimam em fugir ao nosso controle. Sua cabeça recostada no meu peito impede meus movimentos mais articulados. Abro mão da minha liberdade para te deixar mais confortável e à vontade. Faço dos meus ombros largos o seu travesseiro particular. 
            Espero que você acorde sem maiores sobressaltos, satisfeita e em paz com suas próprias escolhas- ao menos pelo tempo em que estivermos juntos- procurando descalça o seu salto, pisando suave o assoalho, como quem tem o cuidado de não me acordar da minha insônia, como quem não sabe bem se está no lugar certo, mas não faz questão de ir longe nos devaneios e nem sair muito depressa, a ponto de não receber um último primeiro beijo de bom dia, e um atencioso café sem açúcar, e sair com a certeza de que deverá voltar logo, e poderá pensar nisso com calma, sem nadar contra a correnteza da vontade, e nem contra a maré das expectativas.

Espero que a atmosfera silenciosa dos seus sonhos se harmonize com o canto matinal dos pássaros, para que eu não tenha que chamar seu nome logo cedo, como o chato estraga-prazeres escolhido pra te lembrar que já está na hora. Que adoraria permanecer o dia todo nessa preguiça gostosa, mas que essa não é infelizmente, uma escolha viável. Os dias não são tão românticos quanto Deus sonhou para a humanidade. Faz frio lá fora. E não me refiro a um estado físico ou psicológico. O mundo é exigente demais com os otimistas tolos e os apaixonados em busca de consolo. Eis que o despertador toca. Você levanta como um raio, que anuncia uma tempestade atrasada, mas que já está se insinuando no horizonte. Tem horário e tal. Eu entendo. Também preciso voltar à realidade. Melhor nos despedirmos das nossas frases pseudo-melosas, e das metáforas que o silêncio nos inspirou na intimidade. Temos os momentos como cúmplices e as paredes como testemunhas, do quanto foi sincero o nosso enlaçar de corpos e sensações.

            Que a memória honre o que a distância há de abraçar com dúvidas. Que a nossa saudade guarde vestígios das lembranças, como fotos capturadas no instante exato em que sucederam os fatos. E que só serão reveladas na cumplicidade secreta dos nossos sorrisos, e nos olhares indiscretos trocados em momentos únicos, quando ninguém mais percebe que aquelas duas almas já compartilharam- mais do que palavras e silêncios constrangedores- os mesmos desejos na forma de um encontro, entre metáforas e lençóis.




           

sábado, 20 de dezembro de 2014

HORIZONTES EM CONTRASTE





     Desculpe a minha estúpida incoerência de não saber puxar assuntos apenas por puxar. Eu não seria capaz de esconder meu interesse por muito tempo, e nem conseguiria ficar duas horas falando de amenidades, apenas para tentar te convencer que eu valho alguma coisa. Não entenda mal, eu sou muito paciente para muitas coisas, mas nem um pouco dissimulado para outras. Bom, talvez em algumas situações, mas não nessas. Não quando se trata de criar empatia e confiança com outra pessoa. Nessas horas, algo em mim parece gritar de forma convicta: "Quem sabe o que quer, reconhece quando encontra". E tudo segue fácil e natural, fluindo para um completo entendimento de palavras, afinidades e olhares, trocados em forma de promessas. Então você sugere que eu te espere enquanto vai ao banheiro. E eu penso alto com um sorriso distraindo o silêncio: "Logo agora que as estrelas começavam a iluminar o caminho?" Mas você sorri com os olhos, e me pede para não ir embora, assim eu sei que você volta. Não me pergunte como, mas eu aposto que sim. 

    Enquanto você demora, ajeita o cabelo ou retoca o batom- fazendo do espelho seu cúmplice e admirador lisonjeiro da sua beleza confiante- fico listando mentalmente todas as coisas a respeito de mim que eu deveria esconder, e como o idiota anti-social que eu sou, começo a pensar que te revelar algumas delas, as piores de preferência, seria uma maneira original de "não" começarmos alguma coisa. Assim, você não me decepciona, fazendo aquilo que eu espero que você faça. Ou seja, sendo previsível. E no entanto, se você for do tipo que não se importa com o passado, e que está mais interessada em quem eu sou de verdade, bem, talvez a gente se entenda fácil, aceite as nossas diferenças necessárias, e saia daqui experimentando um certo tipo de sinceridade que não estamos acostumados a encontrar por aí. Ao menos, não nos lugares onde se encontram pessoas trocando ilusões para passar o tempo.
    Bom, esse seria um bom motivo pra você me considerar diferente. Prefiro que você descubra os outros por si própria. Se conseguir passar da primeira fase, claro. Boa sorte com isso. Te ofereço algum bônus a cada demonstração espontânea de carinho e sensibilidade. E enquanto for a sua chance, os outros esperam a sua vez de jogar.
     Vou te falar a verdade, eu não sou fácil. Há muitas razões para você não gostar de mim, não posso fingir que não. A principal delas é que eu não aceito menos do que estou disposto a ofertar. Não sou do tipo que insiste quando você hesita, tampouco irei desistir quando você resolver apostar. Prefiro que você me surpreenda fazendo as coisas de um jeito diferente, e que não estou acostumado, do que apenas me convença fazendo tudo aquilo que os outros já fazem.
     Calma, que têm mais. Realmente quero que você saia daqui sabendo com quem está lidando, e com a certeza de que eu não sou o cara certo pra você. E você estará profundamente errada se vier a gostar de mim.

    Você não deveria gostar de mim porque eu não consigo ouvir duas músicas em sequência do Coldplay - embora eu até goste de ouvir uma no rádio. Porque prefiro ouvir uma sinfonia de latidos dos cachorros da rua ao invés de um show animadíssimo de pagode, ou porque penso que livros de auto-ajuda só servem pra tornar as pessoas mais auto-centradas e egoístas.
     Você não deveria gostar de mim porque eu sou em parte como todos os homens são, e sou capaz de te magoar tanto quanto outros já o fizeram. Não significa que eu o faria, apenas você deveria saber que eu posso. É mais justo e honesto que você saiba.
    Você não deveria acreditar em tudo que eu falo, não porque eu minta ou invente coisas, mas porque às vezes é mais saudável questionar os motivos que levam alguém a tentar te impressionar contando aventuras, ou relembrando histórias. Trazendo à tona fatos, dizendo coisas que ficariam melhores em um palco, com um roteiro improvisado, ou com uma cena ensaiada mil vezes pra não errar o diálogo, e fazer o beijo parecer mais excitante e apoteótico no final.

    Você não deveria gostar de mim porque eu nunca fui muito bom nessa coisa de tentar agradar apenas para conseguir chegar aonde eu quero, porque eu não costumo usar adjetivos adulatórios para demonstrar interesse. Você não vai me ouvir chamar você de linda a menos que você realmente esteja merecendo um elogio focado assim, diretamente na sua aparência. Não que pra você, isso seja difícil. Acho que você deve ser o tipo de pessoa que fica encantadora até quando acorda, com o cabelo desarrumado e remela nos olhos. Mas um verdadeiro elogio, do tipo espontâneo, desculpe, mas tem que ser merecido. Isso é cruel e idiota da minha parte, eu sei. Mas é o que considero justo nessas relações humano-afetivas. Afinal, você também não saí por aí falando qualquer coisa para qualquer um que conhece apenas para impressionar. Então, por que raios eu deveria fazer isso? Não faz muito sentido, não é mesmo? Só porque é socialmente agradável, e todos fazem, deveria se tornar uma espécie de comportamento padrão? Bom, eu sempre fui um pouco subversivo pra essas questões. É bom que você fique ciente. Se todos vão em fila indiana para o lado direito, eu fico curioso sobre o que deve haver no lado esquerdo. E gosto de ir lá descobrir antes de ter minha opinião formada sobre o assunto. 
    E além do mais, acho que há palavras que são banalizadas pelo uso constante. Acho que existem elogios que sempre são ditos com a intenção de ter algo em troca, mesmo que não pareça na hora. Por mais confiante que você seja, algumas pessoas simplesmente não são confiáveis. Mas você já está cansada de saber disso. Quando for conveniente você os aceita, senão, você os ignora e finge que nem percebeu. Estou ligado que você também sabe jogar esse jogo. E se saí melhor do que muito malandro que se julga especialista. Azar o deles. Quando pensam que te ganham pelo cansaço, você já deu duas voltas neles e já está saindo pelo outro lado, com um sorriso largo no rosto e dando tchauzinho sem nenhum remorso. É assim que você é. É assim que eu sou.

     A gente tem algumas horas para desvendar um ao outro. Não é muito se formos parar para pensar. Não é nada se compararmos com alguns casais que levam uma vida inteira. Mas talvez para nós, por agora, seja o bastante. Acho que simplificar as coisas significa ser mais direto. É mostrar logo ao que veio, o que pretende, e até onde chegam as suas intenções. Você não pode ter medo, nem julgar conhecer alguém pelo que os outros falam. Mas você pode criar seu próprio conceito. Procurando entender as diferenças, se interessando genuinamente por elas. Falando, escutando. Indagando, fazendo perguntas, compartilhando histórias. Há uma natural sequência de eventos a serem seguidas por aqui, como um mapa que leva ao tesouro. Há quem prefira ir se guiando por pistas e navegar por águas misteriosas. E há outros que são mais atraídos pela beleza do caminho, e quando encontram a ilha e o lugar perfeito onde o tesouro se esconde, até esquecem o que procuram. Preferem apreciar a vista juntos. Compartilhando a paisagem no seu livro particular de memórias, e assistindo ao pôr-do-sol, ao final do dia, refletido no mar e no horizonte dos olhos um do outro.





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PROVAÇÕES





     Espero que você ainda conserve aquela visão romanceada que você tinha sobre como a vida deveria te surpreender, renovando sempre as suas possibilidades e te apresentando novas formas de percorrer os mesmos velhos caminhos.
     Espero que você ainda se sinta merecedora daquele conto de fadas que tanto embalava os seus sonhos, e que um dia seria o seu destino ideal, misturado com toda a malícia e inocência das suas fantasias, recriando as palavras que você tanto desejava ouvir. E adaptando à pessoa que você gostaria que estivesse agora, ao seu lado, falando suave ao seu ouvido.

     Espero que não tenha colocado a sua fé no príncipe errado, e deixado que ele manipulasse toda a sua concepção de mundo, baseada exclusivamente em algum erro comum de perspectivas.
     Espero que você, mais do que  decidida ou abnegada, seja forte. Aquele tipo de força que te permite ser doce e profunda. Conhecer cada canto da sua própria alma e as artimanhas secretas dos seus pensamentos. E entender como funciona a confusão no tráfego, aqueles que ultrapassam os limites de velocidade, os que não respeitam a sequência certa de sinais, e avançam quando deveriam ficar calmos, e demoram, quando deveriam acelerar.
     Nesse caso, também espero que você seja paciente, e compreensiva. Porque acredite, você vai precisar. É a lei da oferta da oferta e da procura. Aquilo que você busca, também é algo que vai valorizar nos outros.

     Espero que a sua solidão não se torne uma desculpa para desacreditar de toda a raça humana, especialmente aquela parte imatura e menos evoluída, que vive te decepcionando por atuações previsíveis, e sempre abaixo das expectativas.
     Espero que sofrer não te torne amarga nem egoísta. Que o seu orgulho não sirva como desculpa para justificar todas as suas atitudes estúpidas, e que você não se apegue desesperadamente à razão por não saber compreender e lidar com seus erros.

    Espero que você crie e cultive suas expectativas. Espero mesmo. E com todo o amor e carinho. Não abra mão delas em troca de uma falsa sensação de segurança. Nem abdique dos seus sonhos por não se sentir capaz de de estar à altura deles. Entenda, isso tudo é essencial para chegar onde você pretende. Se preservar ou fugir não torna suas escolhas mais fáceis. Desistir é se acostumar com um vazio de nunca saber qual é o seu lugar no mundo, ou como tudo poderia ter sido melhor se você apenas se permitisse. Até para os fracassos é preciso coragem: para se levantar e seguir em frente. O momento em que você é mais forte é sempre aquele em que supera algum medo ou barreira, emocional ou física. Você tem sempre a sorte disposta a segurar a sua mão. Contar com ela é uma escolha sua. Não ser capaz de reconhecê-la é abrir mão de tudo que ela pode te oferecer.

    Espero que você seja espirituosa, a ponto de levar as coisas com uma certa leveza e uma boa dose de humor. Que saiba sorrir, mesmo que não encontre motivos, e que faça alguém sorrir, quando sentir que isso é preciso. Apenas pelo hábito, e não por esperar nada em troca. Como quem flerta com a felicidade, e recebe de forma discreta, a sua resposta.
    Espero que você aceite e reconheça a sua diferença. Aquilo que te faz ser autêntica e única diante dos desafios que virão pelo caminho. Espero que não se perca tentando provar nada para ninguém, mas conserve aquele jeito simples de encarar a vida, e enxergar as pessoas muito além do que elas demonstram ou parecem ser.

    Para o bem ou para o mal, espero que você seja feliz. Que não se acomode diante das dúvidas, que não incomode ninguém com a sua pretensa loucura. Mas que desperte olhares, atenciosos e sinceramente interessados. Que receba e distribua sorrisos, simpáticos e espontâneos. Colhidos em momentos de confiança mútua, e florescendo como a cumplicidade nos primeiros encontros.

    Espero que acima de tudo, você continue acreditando. Que não perca a fé e a esperança de que o melhor ainda está por vir. Que conserve aquela mania de assistir filmes românticos, e se perguntar se aquilo tudo existe. De embarcar nas suas próprias viagens, entre leituras, músicas e coisas que não cabem na bagagem. E que você leva na lembrança para nunca esquecer onde deixou.

     Espero que você nunca deixe de enxergar significado nas pistas e sinais que o amor deixar pelo caminho. E que saiba fechar os olhos, quando a vontade convidar seus pensamentos a descobrir para que lado é o seu destino.
    Que o seu roteiro seja cheio de promessas, concretizadas em forma de sorrisos. E que ao olhar para qualquer direção, no horizonte ou além do momento presente, você saiba reconhecer que a espera valeu à pena, e que algumas convicções, por mais que nos tragam dúvidas e inquietações momentâneas, só se afirmam na nossa história quando atravessam as provações do tempo.




sábado, 13 de dezembro de 2014

SUPERFICIALIDADES E DISSIMULAÇÕES





              Se você se interessa por alguém e não demonstra, você já está jogando. Se essa pessoa tiver a iniciativa de ir até você, e começar uma conversa, ela vai saber que está entrando no seu jogo. E assim, começam as dissimulações e as falsas impressões compartilhadas com a intenção de criar a imagem ideal do que a outra pessoa procura. 
            Não haveria nada de errado nisso, afinal, todo mundo sabe que é assim mesmo que as coisas acontecem, não há ingênuos nesse jogo. 
            A questão, que parece fora de contexto, é compreender com que razão as pessoas querem depois cobrar envolvimento, entrega e um significado profundo para o que estão vivendo. E ainda se acham dignas de sentimentos reais e altruístas, tais como: sinceridade, fidelidade, respeito, consideração, e por aí vai... Isso sim, é tolice e ingenuidade.

            Onde existem dissimulações e jogos de interesse, não prevalecem regras de conduta, nem resquícios de caráter, nem nada parecido. Só existe o desejo, cego, ávido e momentâneo; E a manipulação, forjada, para se ter e conseguir o que se quer, na hora e da maneira que se quer. E se você cai nessa, desculpe lhe trazer as más notícias, mas você não é vítima de nada, nem nunca foi. Então, não se iluda querendo culpar alguém pelos seus erros. Ninguém te enrola ou te engana sem a sua permissão ou seu consentimento. E não existe lei ou carma divino para isso. Não adianta querer reclamar seus direitos, ou arquitetar vinganças para curar o seu ego ferido. Você perdeu e isso é tudo. Aceite. Aprenda. Tire algum proveito disso.

            Se você começa uma aventura baseada em um joguinho típico de conquista, baseado única e exclusivamente em interesses e aparências, é meio óbvio que isso não vai longe. E se tiver alguma sobrevida, é ainda mais previsível que será algo superficial, cada vez mais vazio de sentido e que no final, você terminará se perguntando: "Onde eu estava com a cabeça quando achei que isso poderia dar certo?"

            Mas pior do que não dar certo, é você fechar os olhos, e não aprender a lição. É repetir como um mantra ensaiado da estupidez que: "não era pra ser...", ou que "a vida é assim mesmo..."- é olhar para os acontecimentos com uma conformidade ignorante, de quem foge das suas próprias responsabilidades, e finge não saber o que aconteceu. Mas você sabe. Você sabe perfeitamente onde erra. Você sabe o quanto é mais fácil culpar sempre os outros pelos seus erros. Você sabe que negociar sua confiança e seu amor próprio em troca de alguma emoção breve e passageira nunca acaba bem. E você sabe que no fundo, sofrer contra a sua vontade, não é o tipo de dor que te trará nenhum prazer. 
            Ah, mas você é forte. Mas também precisa ser inteligente. Ah, mas você não se apega. E nem precisa, nesses casos não daria nem tempo. Você já deve ter lido em algum lugar que a gente só atrai aquilo que transmite. Bem, suas decepções estão aí, e não me deixam mentir: Está mais do que na hora de você começar a demonstrar de uma forma mais clara e decidida, tudo o que quer e deseja encontrar por aí.

            Quer ser feliz e encontrar alguém que preste ou que não te faça perder tempo? Comece sendo alguém de verdade, real, espontâneo. Não decore suas falas, não invente um personagem só para impressionar. Comece olhando fundo nos olhos da felicidade. Comece sorrindo pra quem você gostaria de conhecer um pouco mais. Quer fazer charme? Tenha certeza do que você procura. Deixe isso claro, sem insinuações ou promessas de campanha. Jogue limpo. Ou, melhor ainda, não jogue. Depois que todo mundo já conhece as regras do jogo, não há mais nenhuma vantagem em saber como ele funciona. 

            Você não é autêntico fazendo apenas o que os outros já fazem. Você não se destaca ou chama mais a atenção querendo fazer tudo para mostrar que é diferente. Você é o que você é. Isso basta. E quem gostar de você, vai preferir saber quem é essa pessoa. Pode apostar nisso.
            Quem quiser sinceridade, vai valorizar sinceridade. Quem tiver atitudes, vai reconhecer atitudes. Quem estiver em sintonia com você, vai estar na mesma freqüência que a sua. E assim, as coisas vão seguir o seu curso, de uma forma natural, e nada complicada. Porque o que é "para dar certo"; o que é "para ser", só acontece de fato, quando a gente tem certeza do que está procurando, e quando, antes de algo ou alguém vir a ser alguma coisa para nós, a gente mesmo é.





domingo, 7 de dezembro de 2014

POR UM ENCONTRO OU UMA BEBIDA...


     


      Te encontro ao acaso de uma noite sem planos, parada na sua, à espera da sua bebida colorida, fazendo sinal para o bartender distraído. Você tem pressa, e uma multidão pela frente para retornar ao seu lugar favorito. Sua amiga esta lá, desesperada, ouvindo besteiras e coisas inconvenientes. Mas ela é guerreira, e aguenta, e não se estressa, e ainda guarda o seu lugar improvisado e sem numeração. O show está quase começando. Você deseja estar perto do palco. Acha que lá consegue sentir melhor a vibração e a energia da música. É uma concepção muito particular sua, de que é preciso fechar os olhos e se deixar envolver pelo que rola ao seu redor.
      Até seria bom ter alguém interessante para iniciar uma conversa, só para tirar um pouco o foco dos problemas, distrair o ego e a cabeça, de preferência na hora em que não estivesse tocando uma das suas canções favoritas. Seria melhor ainda se ele não viesse com as mesmas cantadas prontas de sempre, assuntos fora de contexto, e que não te elegesse a segunda ou terceira opção da noite. Não que seja um pré-requisito determinante, mas se ele fosse naturalmente charmoso, conservasse algum estilo próprio, e soubesse conduzir uma conversa de forma espontânea, dosando um pouco de humor com um interesse genuíno pela sua pessoa. Bom, não seria nada mal! Elegância, beleza e simpatia sempre colaboram para que as coisas fluam melhor em casos como esse, você sabe, mas também não estão no topo da sua lista de prioridades. Não diante das circunstâncias em que a noite se apresenta.
     Sua bebida ainda está demorando. O que houve com esse garçom? Foi procurar no estoque os ingredientes da sua poção mágica e entorpecente? Talvez fosse melhor ter apelado para um bom e velho chope. Mas a semana na academia não recomenda. É preciso ser forte, como diz sua personal. E manter a calma numa hora dessas, com tantos chatos te importunando. Você nem sabe qual ignora primeiro. Ser educada nesse caso, pode parecer um incentivo a ir em frente. Melhor ficar calada e sinalizar para sua amiga que já está quase desistindo. Mas ei, eis que ele reaparece, o bartender amarrado, talvez seja agora a sua hora de ser atendida. Finalmente, uma bebida sintética e álcoolorida saindo... 


     Você precisa é de uma ajudinha do acaso, isso sim. Um sorriso com patrocínio da sorte, e promovido pela chance de encontrar diversão e reconsiderar seus motivos, e conceitos formados sobre a superficialidade de tudo que acontece na noite. Algo que te faça dançar a noite inteira, e nem ver passar o tempo. Tipo uma dessas coincidências inexplicáveis que a gente sente que vão nos trazer boas recordações no futuro. Que vamos ficar brincando de adivinhar qual era a roupa que usávamos, qual a música que tocava, ou qual a comida que pedimos. O que esperávamos encontrar quando saímos de casa, quais eram as nossas reais expectativas...
     A gente nunca sabe quais são. E por mais que se negue, elas estão sempre lá, marcando presença, cercando sutilmente as nossas impressões. Como alguém que conhece todos os nossos hábitos e manias, e insiste em querer saber mais, mesmo diante do aviso de:"Cuidado, não se aproxime!" Como se isso representasse um incentivo, e não um considerável risco diante das circunstâncias em que você se encontra. Todos somos vulneráveis quando nos envolvemos com outra pessoa. Isso é inevitável. E diante desse fato, é melhor conservar expectativas realistas ao invés de tentar ingenuamente acreditar que é possível evitá-las por completo.

     No fundo, tudo é surpreendentemente novo. Os começos são sempre cercados de uma aura de mistério e descoberta. Quem se acostuma com eles, é capaz de passar a vida inteira conhecendo pessoas, e nem reclamar de não voltar a vê-las. Tudo é baseado no clique instantâneo do olhar que cola, do jeito que combina, da intenção que vai de encontro ao desejo propriamente dito, ou não dito, mas sentido, de uma forma que não deixa dúvidas: o que acontece ali precisa ser vivido. É para ser, e não hesitar.

    Mas não foi nosso caso. Acho que a gente meio que sabia bem o que queria. Acho que desenvolvemos aquela percepção de adivinhar logo de cara o que havia de secreto nas nossas razões subentendidas. Nós fomos direto ao ponto, e o ponto era exatamente onde nos encontrávamos, à espera de alguém que mexesse com nossas convicções de improviso, que nos tirasse de um estado de seriedade comovente, e mudasse o nosso conceito sobre a impossibilidade de concretizar qualquer coisa real e que valesse uma boa saudade depois. E assim, nós botamos fé um no outro, e de repente, isso foi o que fez toda a diferença. Foi o que nos deu base para sustentarmos nossa visão de mundo, e compartilharmos nossas célebres experiências em forma de histórias. Eu falei, você me ouviu. Você falou, eu te dei atenção. Houve um contraste interessante entre olhares, gestos e palavras. E isso foi fundamental. Agora, não sei. Isso talvez sirva como um radar para identificarmos potenciais romances. Possibilidades relevantes, encontros promissores. 
     Talvez o que deu certo no passado seja como um GPS para um caminho no futuro, e nós devemos nos basear naquela voz interior, naquilo que sabemos que nos capturou de alguma forma, por breves momentos, ou pelo tempo que foi necessário, ou que nós nos permitimos viver plenamente, e fomos deixando acontecer, até onde o destino foi capaz de nos levar. 


    É simples, se você pensar. A gente dificulta por medo de voltar a cometer velhos erros e se ver batendo novamente contra um muro de concreto das emoções não desejadas. Mas não importa, lidar com outro universo é assim mesmo, uma estrada itinerante com belas paisagens e informações desencontradas, que nos guiam conforme a posição das estrelas e a direção dos ventos. E nos ensinam a seguir o que acreditamos ser o melhor caminho. A intuição é o nosso único recurso confiável, e as sensações, o nosso combustível vital. Há sempre um destino ideal, camuflado de sonhos, ricos em detalhes e um horizonte, que parece mais próximo, à medida que nos afastamos do que pensávamos ser a única alternativa possível.
     Mas a melhor parte da felicidade ainda é que ela não se resume à algo ou alguém, nem se restringe a um momento ou outro. Você pode estar aí parada, observando o movimento, ou ansiosa esperando alguma coisa que demora, mas quando menos esperar, de repente, ela te pega de novo de jeito, te puxa com força e delicadeza pelos cabelos e te olha fundo nos olhos, como quem diz: "Esqueça o que estava procurando, eu tenho coisa bem melhor para mostrar pra você."
     E assim, quando a sua bebida finalmente chega, você já não está mais tão sedenta e apressada, e nem mais tão a fim de beber, seja para lembrar, ou para esquecer... Você só pede silenciosamente que toque novamente aquela música, que quando tocou você nem percebeu. E torce, para que não esteja sozinha, cultivando a esperança, de que essa noite termine melhor do que começou. E que as possibilidades agora, mais uma vez se renovem por mais algumas estações...