quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

PAIXÕES DESENCANADAS





              Como é mais pura a alegria na expressão alheia. Saboreamos com mais calma, respiramos mais fácil. Se espalha no ar como um perfume de natureza inebriante, e vai preenchendo os lugares por onde passa com a sua presença carismática. Seu sorriso atrai outros sorrisos, convida o entusiasmo a fazer parte do seu dia, enquanto  instiga a curiosidade diante de uma nova perspectiva. 
                No horizonte das nossas lembranças, restam sempre os momentos sinceros em que elas foram vividas. Feito uma folha carregada pelo vento, na direção de um destino que ela ainda desconhece, entender o que está acontecendo é como tentar prever o tempo e o clima propício para um passeio. 

                Boas intenções e força de vontade nunca foram suficientes para fazer relações intensas como a nossa durarem. Acho que nós esgotamos as nossas possibilidades muito rápido. Com a mesma velocidade com que nos desfazemos das roupas na iminência de uma entrega urgente. Diante de um desejo que não nos permite desperdiçar os sinais com palavras. 

                 Nos entendemos na pressa, na linguagem indecorosa dos corpos- que se verte pela volúpia e se arrefece pelo prazer- enquanto a comunicação mais profunda entre as nossas almas repousava num afeto que provavelmente não fazia parte do contexto. 
                 Nós eramos como dois extremos cortando um mesmo hemisfério através de uma linha imaginária. 
                Você ainda acordava assustada com o som dos raios enquanto eu já estudava o céu minutos antes das tempestades. Nós não tínhamos como transformar nossos conflitos emocionais em um equilíbrio permanente, algo que fosse capaz de nos trazer alguma paz e conforto em meio a promessas superficiais e solidões disfarçadas de orgulho.

               Eu sei, não é nada pessoal. O que é, é. E o que não é, já foi! E assim, como tantas e tantas vezes, nos perdemos pelo caminho, enquanto aquele lugar se enche de estranhos incompatíveis pelas suas diferenças- que só irão descobrir mais tarde, quando já estiverem envolvidos demais para entenderem o que há de errado entre eles. 
               Tudo se torna previsível, a começar pelas suas atitudes diante daquilo que não lhe agrada. Tudo fica mais evidente conforme o tempo passa e você mergulha nessa procura desesperada por alguém que nem sabe se existe. Mas quer acreditar, porque isso é tudo que lhe resta nesse mundo repleto de coisas pela metade, e pessoas inacabadas.

              E duvidando da sua individualidade, você se vê tentada a participar desse jogo coletivo. Eu me vejo tentado a te esquecer em braços delicados e gentis. Me apego ao sexo. Você se desilude com o amor. Finjo que não me importo. Você se priva das lembranças. Perdemos contato. Usamos o tempo e a distância a nosso favor. Não restam dúvidas nem vestígios de culpa na sombra das nossas ações.
          A vida passa. Amores vem e vão. Paixões que nos encantam. Sucumbimos. Desencanamos. Sabe-se lá com que forças, ou motivações egoístas, nos privamos de algumas. Vivemos outras. Algumas desnecessárias, outras improváveis. E ainda algumas, casuais. Desejamos com o corpo. Não saciamos a alma. Criamos cúmplices. Desfazemos laços. Somos tão íntegros para julgar o outro. Ideais pra dar conselhos, sem saber sequer o rumo das nossas próprias vontades. Tão seguros de si. Tão escravos de uma forma alienada de prazer que nunca parece o bastante. Que nunca nos deixa satisfeitos nem nos faz sentir completos por muito tempo.

          E assim nos perdemos outra vez, como se em algum momento tivéssemos realmente nos encontrado. Como se agora não estivéssemos apenas em busca de algum raso sentimento que nos fizesse ignorar ou esquecer que o mar sempre devolve a ressaca em ondas. Que a saudade não é mais que um velho barco preso ao Porto, cujo o destino é a memória das nossas vidas passadas, e a origem mais comum, a solidão, lá onde começam todas as histórias. Onde embarcamos acreditando que sempre iremos chegar a algum lugar, quando, na maioria das vezes, estamos apenas fugindo de nós.

           Mas haverão dias mais prósperos. Dias em que a indignação não te fará tão inquieta e agitada, tentando mudar o que não depende de você. Dias em que a correnteza e as marés seguirão a direção do seu humor e te levarão além da margem das suas prováveis razões. Dias em que a sua fé na astrologia não te fará duvidar das previsões do seu signo. Dias em que as emoções irão corresponder às suas expectativas. Dias em que o medo será expulso da sua órbita, e a força da gravidade irá te trazer de volta para o lugar onde se encontram os destroços e os vestígios da sua inocência, e do seu primeiro contato com o idealizado amor. Nesse dia você entenderá, finalmente, que se importar é necessário e fundamental, para ser importante para alguém. 







  

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