quarta-feira, 12 de novembro de 2014

UM ATÉ LOGO, NÃO UM ADEUS...







      Lá se vão nossas ilusões mais uma vez desfeitas na pressa de arrumar a cama, tentando improvisar alguma frase que soasse como um até logo, e não um adeus. Todas as chances depositadas numa noite sem maiores expectativas, elas não nos fariam arriscar mais do que uma saída despretensiosa, na companhia oportuna de algumas velhas caras conhecidas. Nada que estivesse no meu quadro imaginário de um encontro perfeito. Mas você estava lá, e você tinha a seu favor, a minha carência momentânea de um olhar mais profundo. E você me viu, e mais que isso, me enxergou, ainda de longe. Mirou meu ponto fraco, e foi direto na direção das minhas dúvidas. Parecia que você sabia de cor todo o meu roteiro confuso, e que havia improvisado as falas, segundos antes de subir ao palco. Tudo muito bem ensaiado. Mas sem perder a espontaneidade diante de qualquer necessidade de lidar com imprevistos.

De repente, pareceu que nós tínhamos alguma coisa em comum, fora a sensação de já havermos nos visto antes. Em outra vida, talvez. Acho que nós já sabíamos onde tudo isso ia dar. Tive esse estranho pressentimento de que você ainda iria regar minhas plantas, brincar com meu cachorro, sorrir, compartilhando comigo, alguma observação trivial, que nos fizesse chegar a uma mesma conclusão sozinhos, e dividir o pensamento em duas partes: a minha e a sua. Dois pontos de vista: O antes e o agora. E nós nos complementaríamos fácil, sem nunca deixar de ser inteiros. Porque é assim que relacionamentos promissores começam.

            Combinamos nossas desculpas, e até improvisamos nosso álibi para quando faltasse o assunto. Logo os beijos substituíram os silêncios constrangedores; E quando nada mais restava a se fazer: embarcar ou acenar, vendo o barco partir. Nós embarcamos. De olhos fechados e impulsos sob controle. Foram os passeios mais demorados e agradáveis da primavera com cara de verão. E renderam talvez, um passatempo divertido, para ocupar nossas mentes pelas próximas semanas, ou estações. Por enquanto é o que podemos afirmar do que estamos vivendo.

            Não vamos brincar de prever o futuro. É uma diversão perigosa. Pode tirar toda a emoção do momento. Eu sei que você gosta de certezas. E sei que eu as ofereço quase que de forma inconsciente. Porque te vejo muito além do que os outros veem. E te abraço como quem abraça um sentimento, mais do que dois corpos que se completam. E nós sabemos até onde vão os nossos medos, e lidamos com eles de forma corajosa e atrevida.
Você é simples. Isso te torna especial aos olhos de muita gente. É difícil ser simples hoje em dia. Muita gente complica em busca de aceitação, como se precisasse provar algo para o mundo, e se importasse demais com que as pessoas pensam. Você é meio desligada dessas coisas. Isso é essencial para o seu temperamento. Como se parte do seu charme e do seu brilho estivesse em não se preocupar com o que não lhe diz respeito. Isso é raro. Admiro isso em você. Espero sempre pelo seu sorriso para confirmar que o dia vale realmente à pena. Mesmo longe, nós ainda somos vizinhos de pensamentos. E eu gosto de pensar em você, como quem precisa se focar em alguém que justifique o que sente. Isso nos dá segurança. É uma sensação que não pode ser desperdiçada em troca de aventuras de uma só noite.

            Por isso, quando te olho indo embora, sempre reflito sobre os nossos encontros, e me pego torcendo para que eles voltem a acontecer. De preferência, que não demorem tanto. Que a distância não nos force a ser estranhos pelo tempo sem notícias. E que a solidão seja uma ponte que nós possamos atravessar juntos, sem que você largue a minha mão. Que o nosso último olhar trocado, antes que alguma porta bata ou que alguma viagem nos leve para longe, seja um olhar de promessa. De recomeço. Um até logo, não um adeus...




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